Não tenho orgulho de ser gaúcho. Pessoalmente, guardo a bombacha e as botas em setembro, quando a maioria tira do armário e coloca no sol para afastar um pouco aquele cheiro de naftalina. A semana farroupilha, no fundo, é isso: um carnaval fora de época, momento em que os moradores do sul, podem andar fantasiados pelas ruas e não serem vítimas de piadas. Eu não uso bota e bombacha, em nessa época, por dois motivos: primeiro, porque o frio está indo embora com a chegada da primavera; segundo, para não precisar responder a pergunta "como está o acampamento farroupilha?". Esse que acontece em Porto Alegre. Sempre que ouvi a pergunta, respondi a mesma coisa: - "Não sei. Não nunca fui".
Quem vai no acampamento farroupilha ou é curioso ou "tem orgulho de ser gaúcho". Esse segundo grupo, definitivamente, é até meio perigoso. São donos de um raciocínio que mistura kantismo e positivismo. Eles têm orgulho de perder uma guerra, comandada por um "herói" mercenário, Bento Gonçalves, que abandonou a peleia quando acabou o dinheiro que financiava suas investidas amadoras. Os farrapos ganharam algumas batalhas isoladas. Verdade. Mas perderem a guerra. A palavra "revolução" pode ser substituída por "tentativa de golpe" e as coisas começam a fazer mais sentido.
"Ah, mas o Rio Grande do Sul foi um país, pelo menos, de 1835 até 1845". Mentira. O Rio Grande do Sul nunca foi um país. Foi reconhecido apenas pelo Uruguai, na época, uma ditadura ainda não unificada. A "República Rio-Grandense" também viu um acendo do ditador argentino da época, Juan Manuel de Rosas. Ele jurou que daria apoio aos farrapos. Mas não deu Tempo. Rosas e foi enxotado do poder pelas tropas do Império Brasileiro. Baita apoio.
Antônio Rodrigues Fernandes Braga, presidente provincial nomeado pelo imperador, realmente saiu fugido de Porto Alegre, depois da batalha na ponte da Azenha (aliás, Bento Gonçalves sequer participou desse pega-pra-capar). Braga foi para Rio Grade e, de lá, tentou controlar a tensão. Mas isso não quer dizer que Porto Alegre deixou de ser imperialista. A maior prova é a escolha de Piratini para declarar a tal "república" gaúcha. Porto Alegre sempre esteve do lado do império, junto com as grandes cidades da província.
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Getúlio Vargas foi um gaúcho. Com toda certeza, é o brasileiro que mais batiza, ruas, avenidas e praças nas mais de 5 mil cidades brasileiras. Nem Lula, quando morrer, conseguirá ser tão homenageado. Vargas é o maior vilão-herói nacional. Ninguém discute isso. Opa! São Paulo discute, sim! Vargas deu um belo passa-te quieto, nos paulistas durante a "revolução" constitucionalista de 32.
Os gaúchos pensam ser muito diferentes dos paulistanos. E vice-versa. Mas somos iguais aos paulistas quando comemoramos uma revolução que perdemos. Nós temos a Revolução Farroupilha de 1835; eles têm a revolução constitucionalista de 1932. Contar vantagem do próprio fiasco é a única virtude genuinamente brasileira. Nosso senso de unidade deve ser esse: contar vantagem do próprio fracasso. Vamos acabar todos abraçados no Parque da Harmonia, comemorando a Revolução Farroupilha e bebendo cerveja da Ambev, produzida e envasada em São Paulo. Todos bêbados e felizes da vida! Porque a ignorância é uma benção.
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Atualizando
O porto-alegrense e amigo Gregory Peres mandou lembrar: Porto Alegre é tão imperialista que registra isso no seu brasão: "Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre". Muito bem lembrado. Com direito a Cruz de Malta, coroa do imperador e barquinho lusitano. Tudo nos conformis.
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Atualizando
O porto-alegrense e amigo Gregory Peres mandou lembrar: Porto Alegre é tão imperialista que registra isso no seu brasão: "Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre". Muito bem lembrado. Com direito a Cruz de Malta, coroa do imperador e barquinho lusitano. Tudo nos conformis.
2 comentários:
é isso ai que se podia esperar em um pais descoberto pelos portugueses .
isso ai o que se podia esperar de um pais descoberto pelos portugueses .
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