domingo, 24 de julho de 2011

Turismo, de preferência, sem turistas

Evito muito fazer turismo. Entre a falta de dinheiro e paciência, sou muito urbanizado e não gosto de praia. Assim, restam poucas alternativas nesse país mal explorado. Fazer turismo em lugares alternativos, salvo raras exceções, requer mais dinheiro e menos conforto. Esse é um texto sobre uma exceção. Antes de falar dela, falo sobre outra coisa muito séria que me afasta do turismo: os turistas. Tenho nojo, raiva, pânico, éca das famílias de classe média espremidas em ecoadventures parceladas em 12265435 prestações que os papais compraram pensando estar adquirindo uma Land Rover tracionada de R$150mil. Nunca a propaganda automobilística foi tão mentirosa e eficiente. Então, fica a dica: seu Fiatezinho Adventure vai acabar com a suspensão arrebentada, nobre idiota. Se tu saíres de casa para impressionar a patroa e as crianças no Rally dos Sertões, vai acabar tomando sol na cabeça. Seu final de semana vai terminar com uma mulher reclamona no volume 120 e seu filho chorando de fome.

No último final de semana fui para uma cidadeca chamada Cambará do Sul. Trata-se de uma pequena cidade na Serra Gaúcha que recebe turistas interessados em visitar uma cadeia de cânions relativamente famosa. Infelizmente, não é sequer preciso chegar a Cambará para compreender a falta de preparo do Estado do Rio Grande do Sul para trabalhar com turismo. Antes de sair de Porto Alegre, já estava desanimado pela demora de algumas pousadas em responder e-mails com a reserva da hospedagem. Amigo empresário do setor hoteleiro, se você coloca uma maldita página na internet, corre o risco de ser procurado, então, prepare-se para dar resposta aos seus clientes. Se não for pra fazer assim, não faça nada.

Depois da tentativa de fazer algumas reservas fracassadas, encontrei um site confiável de um guia que acabou se tornando um amigo, o Eduardo Bernardino, nativo da região e conhecedor das montanhas. (Chamei o Eduardo de Rodrigo várias vezes, fui corrigido várias vezes e só fui descobrir depois que estava fazendo confusão com o Capitão Rodrigo Cambará: "Buenas, me espalho". Se você não sabe do que eu estou falando, procure saber quem foi Érico Veríssimo e se tranque num buraco escuro, até conhecer a obra completa). O Eduardo Cambará sobe e desce aquelas montanhas desde criança com o pai e tem toda a estrutura para receber boçais urbanizados -como eu.

Bom. O Capitão Eduardo resolveu metade dos meus problemas. Fez as reservas com agilidade em uma pousada muito bacana e providenciou o acesso aos cânions, coisa que me interessava. No primeiro dia, visitamos o cânion do Itaimbézinho e no segundo o Fortaleza. A área é realmente muito bonita apesar da péssima organização dos órgãos de controle dos parques nacionais, especialmente o Cenbio, mais um braço do Governo Federal disposto a prejudicar mais do que ajudar. De qualquer forma, foi graças ao Eduardo que tivemos acesso a lugares onde as trilhas indicativas não indicam nada e, assim, podemos conhecer um dos pontos mais lindos da América Latina. Se você quiser visitar o Itaimbezinho sem um guia, tudo bem. Mas desrecomendo muito a ida ao cânion Fortaleza sem um guia. O lugar é mais inóspito e as trilhas são mais complicadas. Mulher e criança: nem pensar. Vai precisar de ajuda e essa ajuda é o Eduardo.

As paredes dos cânions são maiores que os Grand Canyons americanos, a vegetação é maravilhosa e o reaparecimento das araucárias tem mostrado um lado bacana da preservação. Outra coisa bacana são as quedas d'água. Não é permitido se banhar em parques nacionais, mas é melhor assim, afasta a chinelagem farofeira para outras áreas.

Ponto. Nova linha.

Ver aquela beleza toda tem um preço. Cambará do Sul é uma cidade com 6mil habitantes, poucos restaurantes e uma péssima capacidade de atender a demanda de turistas. Não há bancos nacionais, muito menos internacionais, são poucos os lugares para comprar mantimentos e lembranças de viagem e, praticamente, não há como alimentar toda aquela gente. Há um restaurante típico gaúcho chamado Costaneira, com uma comida excelente e uma equipe razoável para fazer o atendimento. Esse eu recomendo. Em dois lugares onde comi, beirei a condição de desespero. No primeiro, uma pizzaria lotada, havia um garçom excelente e um outro. O segundo era tão útil quanto um poste. Demorou, tivemos que fazer reservas - mas tudo bem - e fomos atendidos. No segundo dia, fomos a outro restaurante onde demoramos 45minutos para conseguir fazer o pedido e esperamos DUAS horas por uma pizza. Havia uma adolescente de 13 anos beirando o infarto tetando atender mais de 70 pessoas. Simplesmente impossível. Minha namorada e eu quase levantamos da mesa e ajudamos ela a recolher pratos. Clientes menos pacientes e, muito provavelmente, com algum horário marcado no hospital para salvar a vida do próprio pai bradavam e xingavam a pobre criança. Angustiante.

Feito esse relato, alguns podem compreender porque os turistas que visitam os cânions dispostos naquela região preferem hospedar-se em Canela ou Gramado, cidades nojentas, caras e, pior, repletas de turistas.

De qualquer forma, fica a dica: vá para Cambará do Sul e leve dinheiro em espécie, tenha paciência nos restaurantes e passe na prefeitura para protocolar uma reclamação, como fez minha amiga lusitana Sandra Alves (comigo na foto). "Oras pois, eu vim até o Brasil para gaxtar meux Eurox e não há um banco!", disse ela para a coitada de uma atendente da Secretaria de Turismo do município. A várzea é tanta que a menina não tinha sequer uma caneta para anotar o que a portuguesa reclamava.

4 comentários:

Anônimo disse...

Como tu podes ser tão mau-humorado?
Quero ver daqui a 30 anos!!! Vá te tratar.

Red disse...

Realmente, vc precisa de tratamento. Porque aguentar essa gente chata que vem aqui fazer comentários anônimos... é preciso muita tarja preta para não surtar.

Sandra - Lusa disse...

Cambará do Sul recomenda-se, para a próxima carregarei uma caneta comigo para fazer as sugestões. A subida do rio do boi será o round dois:)

Lusa

Anônimo disse...

Desculpa lá...mas quem teve a ideia de ajudar a adolescente fui eu hein!!!
Lucas Silva