Evito muito fazer turismo. Entre a falta de dinheiro e paciência, sou muito urbanizado e não gosto de praia. Assim, restam poucas alternativas nesse país mal explorado. Fazer turismo em lugares alternativos, salvo raras exceções, requer mais dinheiro e menos conforto. Esse é um texto sobre uma exceção. Antes de falar dela, falo sobre outra coisa muito séria que me afasta do turismo: os turistas. Tenho nojo, raiva, pânico, éca das famílias de classe média espremidas em ecoadventures parceladas em 12265435 prestações que os papais compraram pensando estar adquirindo uma Land Rover tracionada de R$150mil. Nunca a propaganda automobilística foi tão mentirosa e eficiente. Então, fica a dica: seu Fiatezinho Adventure vai acabar com a suspensão arrebentada, nobre idiota. Se tu saíres de casa para impressionar a patroa e as crianças no Rally dos Sertões, vai acabar tomando sol na cabeça. Seu final de semana vai terminar com uma mulher reclamona no volume 120 e seu filho chorando de fome.
No último final de semana fui para uma cidadeca chamada Cambará do Sul. Trata-se de uma pequena cidade na Serra Gaúcha que recebe turistas interessados em visitar uma cadeia de cânions relativamente famosa. Infelizmente, não é sequer preciso chegar a Cambará para compreender a falta de preparo do Estado do Rio Grande do Sul para trabalhar com turismo. Antes de sair de Porto Alegre, já estava desanimado pela demora de algumas pousadas em responder e-mails com a reserva da hospedagem. Amigo empresário do setor hoteleiro, se você coloca uma maldita página na internet, corre o risco de ser procurado, então, prepare-se para dar resposta aos seus clientes. Se não for pra fazer assim, não faça nada.
Bom. O Capitão Eduardo resolveu metade dos meus problemas. Fez as reservas com agilidade em uma pousada muito bacana e providenciou o acesso aos cânions, coisa que me interessava. No primeiro dia, visitamos o cânion do Itaimbézinho e no segundo o Fortaleza. A área é realmente muito bonita apesar da péssima organização dos órgãos de controle dos parques nacionais, especialmente o Cenbio, mais um braço do Governo Federal disposto a prejudicar mais do que ajudar. De qualquer forma, foi graças ao Eduardo que tivemos acesso a lugares onde as trilhas indicativas não indicam nada e, assim, podemos conhecer um dos pontos mais lindos da América Latina. Se você quiser visitar o Itaimbezinho sem um guia, tudo bem. Mas desrecomendo muito a ida ao cânion Fortaleza sem um guia. O lugar é mais inóspito e as trilhas são mais complicadas. Mulher e criança: nem pensar. Vai precisar de ajuda e essa ajuda é o Eduardo.
As paredes dos cânions são maiores que os Grand Canyons americanos, a vegetação é maravilhosa e o reaparecimento das araucárias tem mostrado um lado bacana da preservação. Outra coisa bacana são as quedas d'água. Não é permitido se banhar em parques nacionais, mas é melhor assim, afasta a chinelagem farofeira para outras áreas.
Ponto. Nova linha.
Ver aquela beleza toda tem um preço. Cambará do Sul é uma cidade com 6mil habitantes, poucos restaurantes e uma péssima capacidade de atender a demanda de turistas. Não há bancos nacionais, muito menos internacionais, são poucos os lugares para comprar mantimentos e lembranças de viagem e, praticamente, não há como alimentar toda aquela gente. Há um restaurante típico gaúcho chamado Costaneira, com uma comida excelente e uma equipe razoável para fazer o atendimento. Esse eu recomendo. Em dois lugares onde comi, beirei a condição de desespero. No primeiro, uma pizzaria lotada, havia um garçom excelente e um outro. O segundo era tão útil quanto um poste. Demorou, tivemos que fazer reservas - mas tudo bem - e fomos atendidos. No segundo dia, fomos a outro restaurante onde demoramos 45minutos para conseguir fazer o pedido e esperamos DUAS horas por uma pizza. Havia uma adolescente de 13 anos beirando o infarto tetando atender mais de 70 pessoas. Simplesmente impossível. Minha namorada e eu quase levantamos da mesa e ajudamos ela a recolher pratos. Clientes menos pacientes e, muito provavelmente, com algum horário marcado no hospital para salvar a vida do próprio pai bradavam e xingavam a pobre criança. Angustiante.
Feito esse relato, alguns podem compreender porque os turistas que visitam os cânions dispostos naquela região preferem hospedar-se em Canela ou Gramado, cidades nojentas, caras e, pior, repletas de turistas.
De qualquer forma, fica a dica: vá para Cambará do Sul e leve dinheiro em espécie, tenha paciência nos restaurantes e passe na prefeitura para protocolar uma reclamação, como fez minha amiga lusitana Sandra Alves (comigo na foto). "Oras pois, eu vim até o Brasil para gaxtar meux Eurox e não há um banco!", disse ela para a coitada de uma atendente da Secretaria de Turismo do município. A várzea é tanta que a menina não tinha sequer uma caneta para anotar o que a portuguesa reclamava.
4 comentários:
Como tu podes ser tão mau-humorado?
Quero ver daqui a 30 anos!!! Vá te tratar.
Realmente, vc precisa de tratamento. Porque aguentar essa gente chata que vem aqui fazer comentários anônimos... é preciso muita tarja preta para não surtar.
Cambará do Sul recomenda-se, para a próxima carregarei uma caneta comigo para fazer as sugestões. A subida do rio do boi será o round dois:)
Lusa
Desculpa lá...mas quem teve a ideia de ajudar a adolescente fui eu hein!!!
Lucas Silva
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