quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Haveria mídia confiável sob esse modelo econômico?

Hélio Sassen, do seu blog, HelioPaz

Não defendo, de forma alguma, a mídia corporativa. Todavia, ela não é a principal vilã e nem tampouco a única vilã: é preciso ter em mente que ela faz parte de um SISTEMA em REDE, na qual as MEGACORPORAÇÕES GLOBAIS são quem dá as cartas em quase todos os lugares do mundo. O estado-nação perdeu força em todo o planeta.

A mídia corporativa é, sim, um instrumento de comunicação orquestrado pelas oligarquias. O problema dessa “Grande Mídia” é que ela sobrevive a partir de um modelo econômico puramente mercantilista: se eu pago, posso cobrar que as matérias a respeito do meu negócio sejam positivas e que se omita as virtudes do meu concorrente. Se eu quero exclusividade na transmissão de uma Copa do Mundo, não posso falar mal do Ricardo Teixeira nem do Blatter.

Ao mesmo tempo, uma mídia verdadeiramente PÚBLICA não pode, de forma alguma, ser uma mídia ESTATAL. Senão, ela será essencialmente chapa-branca. Quando um governo acabar, pode mudar a política do próximo a assumir e ou terminar com ela, ou ser administrada como um ordinário ente comercial igual às suas concorrentes.

Também não dá pra cobrar que, para se democratizar os meios de comunicação no Brasil, seja imposta uma lei que obrigue a existência de uma mídia “de esquerda” e outra “de direita” em igual proporção: primeiro, porque o consumidor de notícias vai auto-organizar esse mercado, comprando mais alguns veículos e menos outros.

Finalmente, o modelo de excelência técnica, informação predominantemente relevante e menor distorção deveria ser muito parecido com o que a BBC oferece: o estado é dono de 50% + 1 das ações e a iniciativa privada não pode concentrar ações em poucas empresas do mesmo ramo ou dos mesmos donos (se possível).

Isenção, imparcialidade, totalidade de espectros de visões diferentes com o mesmo espaço disponível e complexidade não são atributos verdadeiros da mídia, seja ela hegemônica ou não, pública ou privada.

O importante é que exista a publicização da mídia não-hegemônica a fim de que as pessoas vão atrás dela caso queiram informar-se melhor.

No caso específico do RS, a mídia corporativa criminaliza os movimentos sociais, defende o agronegócio e a privataria porque escreve predominantemente para donas-de-casa de classe média e profissionais liberais. Como se sabe, o RS é um dos estados cuja população mais abastada é mais racista, simplista, revanchista, preconceituosa e puxa-saco dos ricos.

Ora, como grande parte dos jornalistas que gostam de trabalhar na Grande Mídia também vêm dessas classes, as subjetividades produzidas por eles vão além do medo, da notoriedade ou das ordens do editor ou do patrocinador: elas já estão naturalizadas na sua própria visão de mundo.

A mídia não cria fatos, factóides e nem uma visão mais honesta ou menos honesta sobre qualquer coisa de maneira meramente impositiva para que o público acredite nela. E ela nunca esteve sozinha nesse negócio. Ela REVERBERA aquilo que a parcela da população que a consome diz e pensa de acordo com a sua realidade.

Portanto, se quisermos uma mídia melhor, precisamos investir pesadamente em sociologia, psicologia e em um reforço substancial em línguas.

Afinal de contas, enquanto vigir esse modelo mercantilista, nada irá mudar.

Por outro lado, se serve de alento, a tiragem dos jornalões e o seu número de assinantes tem caído vertiginosamente desde o final da década de 1980 no mundo inteiro. A internet gratuita tem parte nisso, apesar de que os blogs são lidos por uma minúscula minoria e que os portais de conteúdo pertencem às mesmas organizações midiáticas.

Porém, o positivo é que, na internet, um portal não possui normas fixas nem tempo suficiente para que alguém filtre todos os comentários “de esquerda” sobre as notícias desses portais.

Dessa forma, comentar ostensivamente nas notícias de política e economia dos portais surte um efeito maior do que as nossas discussões na blogosfera, pois a quantidade de comentários por notícia é, em média, pelo menos dez vezes maior do que a média dos comentários dos blogs de esquerda mais visitados.

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