terça-feira, 30 de novembro de 2021

Orçamento secreto, ilimitado, on line e custo/benefício

Eu estava revendo coisas que escrevi quando estive em Londres e relendo minhas próprias ideias, como é natural aos não-completamente idiotas. Tentei explicar naquela oportunidade que comparar valores de artefatos de luxo com produtos populares é uma intransigência de pessoas com alguma preguiça moral, sedentos por cortar cabeças, impiedosos com o dinheiro alheio. Tornei a me lembrar disso porque o comércio eletrônico entrou na minha vida de forma irreversível. Claro, que não tenho comprado nada de luxo nas últimas vidas que tive nesta Terra, mesmo assim, a internet nos deu poder de comparação para pesar o custo/benefício das coisas de compramos, não tínhamos antes, sabemos bem. E isso é tão democrático que vale para praticamente tudo, de relógios populares a carros de luxo, passando por toalhas de mesa. 

Alguns artigos despertam mais o interesse dos consumidores e das empresas de comunicação que se especializaram em release, review, unboxing e outros meios de narrar a experiência com um produto. Equipamentos eletrônicos ligados à tecnologia têm mais chance de despertarem o interesse do consumidor que procura por isso on line, porque - ao natural - é um consumidor que compra on line com mais facilidade, compara preços e se importa com o que tem para gastar. A relação entre custo e benefício foi alterada para tudo nas relações humanas. Namoros e paternidades têm sido pesados de maneira desumana e isso tumultuado as relações interpessoais, mas vou respeitar a minha regra de nunca falar sobre assuntos de psicologia comportamental, pelo profundo desgosto que tenho pelas pessoas que tratam disso como uma profissão da área da saúde. Gentalha, claro. 

O que quero dizer é que as relações de custo/benefício, afastadas do varejo, são outras no consumo, hoje em dia. A compra por impulso, na vitrine da loja, se limitou a quem não tem acesso à crédito ou mesmo à internet; também para produtos difíceis de serem transportados ou que preferencialmente são "provados", como vestimentas. No geral, o varejo vai desaparecer. 

Agora, você tem a oportunidade virtual de comparar aquilo que você está comprando com o pináculo da tecnologia em torno de um determinado produto: materiais mais duráveis, sistemas mais rápidos, desempenho e eficiência melhores. E pode fazer isso com absolutamente tudo o que deseja consumir. Isso desafia todos aqueles que - sem uma concorrência desse tipo, no passado - eram reconhecidamente os melhores nas suas áreas.  Principalmente, produtos de luxo. Custos precisam ser cortados, mas a pesquisa continua sendo a chave do problema para eles. 

Isso existe nos sistemas econômicos abertos no mundo todo, mas você precisará de uma caricatura econômica para entender o problema. E essa caricatura é o Brasil, um país onde as viúvas de um passado ruim e tacanha são saudosistas de Gol 1000, Corcel, Opala e Fusca. Carros ruins? Não. Horríveis! Apenas a única coisa que se tinha a disposição por burrice política e protecionismo. Até nosso nacionalismo é um projeto importado e mal executado. 

Vivemos tempos economicamente bizarros em muitos setores. As montadoras de automóveis de luxo, por exemplo, produzem com menos qualidade do que antes e cobram mais caro por isso. Aqueles que podem pagar querem, de fato, ostentar sem comparar, a marca faz diferença pra eles. Outros, na outra ponta da corda cada vez mais tensionada, trocam a carne vermelha pelo frango, o frango pelo ovo e o ovo é substituído - tenham piedade! - pelo que quer que seja. 

Concluo dizendo que recomendar a morte de Paulo Jegues é um imperativo moral e econômico inevitável. 

Cito Eduardo Cunha: Deus tenha misericórdia dessa nação!

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