Nunca foi sobre voto impresso, muito menos sobre auditoria nas eleições. A demanda homérica criada pelo mandatário do poder Executivo é um plano novo, desesperado, de alguém que perde apoio político e vê as chances de reeleição diminuírem, dia após dia. Bolsonaro ficou com medo das urnas, porque - pela primeira vez - tem algo a perder. Acuado, encampou sozinho, sem apoio sequer na explanada dos ministérios, a ideia de um "voto impresso e auditável".
Nunca foi voto impresso.
A lata de lixo da história acolhe pessoas vivas. Olavo de Carvalho é um excelente exemplo. Mas não da lata de lixo da história política! Trata-se, outrossim, de outra figura pública, articulista de jornais brasileiros importantes até 2005; uma outra figura, quando era astrólogo, bem antes disso, quando tentou a vida acadêmica. A lata de lixo da história de Olavo de Carvalho é acadêmica. Acuado, ignorado e desmentido pelo sistema organizado de produção intelectual, ele entendeu perfeitamente quando estaria sendo jogado na lata de lixo da história. Trocou a mendicância nas ruas de São Paulo pelo autoexílio, no momento mais oportuno de todos: o primeiro governo Lula, um governo "comunista". Mendigar nos USA, além de aparentemente mais coerente, é mais fácil. Ele não precisa assumir a responsabilidade jurídica e intelectual dos absurdos que passou a dizer. Basta que consiga criar uma vaquinha na internet para conseguir voltar ao Brasil, em seus tratamentos de saúde. Afinal, a vida de um idoso mendicante nos Estados Unidos também não é nada fácil.
Qual o momento certo para Bolsonaro assumir o papel que lhe cabe na lata de lixo da história política? A pergunta não é se, mas quando. Ele é a pessoa mais vulnerável a perda do apoio que o elegeu. Diferente dos seus defensores oportunistas, como Onyx Lorenzoni ou Osmar Terra, com oportunidade de se refugiarem em cargos no Congresso, Estados e Prefeituras, Bolsonaro está sozinho. Personagens que o orbitam, sempre tiveram algo a perder. O momento mais oportuno para ele assumir o seu lugar na lata de lixo da história é mais parecido com o de Jânio Quadros do que com o de Fernando Collor. O ataque a urna eletrônica dá Bolsonaro a tese da inexigibilidade. Atacar a urna eletrônica reiteradas vezes é atacar o Supremo Tribunal Eleitoral e, na cola, todos os ministros do Supremo. É implorar para ser investigado, condenado e se tornar inelegível. A lata de lixo perfeita, no momento perfeito. É muito difícil ficar por cima do chorume, mas não custa tentar. Olavo conseguiu; Jânio conseguiu.
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