Não é qualquer lugar que pode ter a sua história separada em ciclos, uma sucessão de etapas em torno dos mesmos pontos: conservar a injustiça e perpetuar a burrice. O Brasil é um desses lugares. Colônia, império, primeira república, estado novo, democracia e ditadura militar são ciclos em torno da nossa ignorância e dos nossos fracassos. Só conseguimos justiça distributiva se for o caso de distribuir a perda de oportunidades e retributiva se precisarmos retribuir a brutalidade com mais intolerância.
A história recente também sobrevive desses ciclos. Dois mil e treze foi o eclipsar de um que teve seu ponto alto na copa do mundo de 14 e encerramento no impeachment de 15. Restou desse processo o BRT ou metrô? Não. Foram obras que nunca acabaram. Hospitais, centros de pesquisa? Não. Não se usa pão e circo para essas coisas. Aprendemos com isso que a esquerda não tem licença para roubar? Também, não. Apenas demos a direita a oportunidade de fazer isso por algum tempo.
Na perda dessas oportunidades, talvez, o único legado que nos reste virá com a pandemia.
Nela, aprenderemos que o paradoxo da tolerância precisa ser superado, que vidas pouco importam quando a liberdade não faz sentido. O corona vírus derrubou mais máscaras do que vestiu e descobrimos que o pior canalha de direita é aquele capaz de se contaminar e defender a contaminação dos outros, quando estiver curado, afinal: os mortos são irrelevantes quando abatidos em guerras, quê importam os mortos da guerra que não fomos convidados a lutar? Não aprenderemos que Darwin tem razão, porque o processo de aniquilamento dos menos aptos é lento demais para nossa burrice incondicional frente à ciência, mas descobriremos que - como legado! - a escola não ensina, a universidade só serve pra distribuir diplomas para ineptos egoístas e narcisistas e os hospitais não funcionam para os pobres.
Talvez possamos separar pessoas para o lixo da história, iniciar outro ciclo com outros mentecaptos no poder e - talvez um dia, como legado! - de fato eliminar aqueles que atrapalham, levar para el paredón aqueles que estão no mundo a passeio e, finalmente, matar um presidente ou outro. Tudo apoiado nos princípios de tiranicídio já conhecidos pela civilização a algum tempo.
Talvez um dia - como legado! - possamos superar o paradoxo da tolerância e nos tornarmos livres.
2 comentários:
Oi Parabéns pela reflexão! Também adorei seu texto sobre mulheres de cabelo curto no site papo de homem! Hehe muito divertido e criativo!!
Olá, parabéns pela reflexão! Gostei muito também do texto sobre mulheres de cabelo curto no site papo de homem, hehe muito interessante, elegante e criativo!
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