terça-feira, 1 de agosto de 2017

O Palhaço de Viamão

Qual a diferença entre um palhaço e um comediante? A princípio, ambos têm o mesmo objetivo: fazer rir. A principal diferença é que o palhaço quer fazer com que riam de si, já o comediante quer risadas consigo. Comediante, entende de ironia, sarcasmo e, principalmente, da ideia de criar uma expectativa e subverter ela. Não é disso que se trata esse texto.

O palhaço de Viamão queria que os ouvintes da emissora de rádio para qual ele trabalhava rissem o tempo todo dele mesmo. Tentava piadas com mulheres, negros, homossexuais, mas o resultado nunca era a piada, era a própria vulgaridade. O próprio palhaço virava assunto e seu objetivo estava sempre completado. Então, no último sábado, o palhaço de Viamão resolveu dizer o seguinte na rádio: "Eu confesso que não senti, achava o Sant'ana muito filho da puta", referindo-se ao falecimento recente de Paulo Sant'ana. "Meu Deus! Eu tava fazendo uma piada e botam no ar tudo", completou o palhaço de Viamão, sugerindo que não sabia que estava no ar ao vivo.

Nunca se discute o quê um palhaço diz; perdemos nosso tempo discutindo o palhaço em si. É disso que se trata o palhaço de Viamão, um cara produzido por outro palhaço, o palhaço da Olavo Bilac (desse palhaço eu trato outra hora).

Como acho meu tempo valioso demais, não vou me dirigir ao palhaço, mas ao circo. A empresa para a qual o palhaço trabalhava emitiu um comunicado nos seguinte termos: "Por não estar mais alinhado ao posicionamento adotado pelos veículos", referindo-se ao palhaço, ele "está deixando a empresa", completa a nota. Se o palhaço de Viamão não está "mais" alinhado, quer dizer que um dia ele já esteve. Na verdade esteve até ontem, 31 de julho de 2017, quando a nota foi emitida pelo circo e o palhaço teve seu contrato rescindido. Não tenho procuração para defender palhaço, mas observem que o circo ratificava, assinava embaixo e dava aval à homofobia, xenofobia e sexismo até antes de ontem. Toda coletânea de bobagens que o palhaço fez para chamar atenção para si faziam parte do seu "alinhamento ao posicionamento adotado" pelo circo.

Realmente, creio que existe um grau de lamento em permitir que um palhaço velho, meio neurótico, com visíveis sintomas de definhamento mental pela idade seja despachado nesses termos, quando a culpa central é do circo. É fácil manipular um palhaço, ao menos, nessas condições.

O circo, aliás, está à venda e cada vez com um preço mais baixo. Quem tiver interesse, aproveite.

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