A abertura dos jogos Olímpicos foi uma festa invejável. Disso a gente entende: festa, carnaval e péssimo gosto estético. A boa novidade é que o mau gosto ficou de fora da cerimônia. Ponto para a equipe que pensou a abertura. O artista que desenhou a pira olímpica, Anthony Howe, também marcou um golaço. Bonito demais aquela cuia de chimarrão com as pazinhas se mexendo em movimento elíptico.
Mesmo antes a abertura, oficinal nossas especialidades mais elementares já estavam em cena: incompetência política, saúde pública destruída, segurança pública em ritmo de escarnio e nossa péssima educação. Seria possível elencar vários shows em cada uma dessas áreas. O mundo está fazendo isso, cada cultura a sua maneira. Sim, verdade. Vai ter jornalista elogiando a sede dos jogos. Não elogiar o Rio de Janeiro é um passo para a insanidade. Provavelmente, seja a geografia mais bonita do mundo. Excluindo os taxistas e os bandidos (nem todo bandido é taxista) tem muita gente boa no Rio. Então, nada mais natural do que você se encantar com a cidade. Uma cidade turística normal, onde turistas são explorados, como em qualquer outra cidade turística. Isso nunca será um problema. Turista merece ser explorado, mesmo. Mas só financeiramente. Precisa transporte, estrutura e assistência de toda ordem.
Os principal problema é que ninguém consegue ligar um botão "evento de projeção mundial" e isolar a cidade das Olimpíadas.
Por ora, nossa lista de absurdos inclui, um ministro português assaltado, uma arquiteta morta no Boulevard Olímpico, outro assassinado próximo do Maracanã, antes da abertura oficial. Também temos militares do Exército baleados e tiroteio no morro do Alemão, bala perdida no centro de imprensa e ônibus de jornalista tomando chumbo. Tudo coisas do cotidiano da cidade e, portanto, das Olimpíadas. Nada anormal.
Se a segurança pública não fosse um problema suficientemente grave, o transporte da pior qualidade ajuda a desenhar o cenário. Durante todo o dia de ontem, turistas relataram que não conseguiam comprar o vale-transporte de três dias, mais acessível que o individual. Também tem a saúde pública e saneamento roubando a atenção. Nem me refiro a Baia de Guanabara, mas a piscina de polo aquático que ficou com a água inexplicavelmente verde. Claro que "não faz mal pra saúde de nenhum atleta", mentem os irresponsáveis.
Burrice administrativas, e vários jogos sem público algum. Como os turistas viraram as costas para o evento, sobrou espaço vazio nas arquibancadas. Com o recorde negativo de UM único torcedor pagante em um jogo entre África do Sul e Suécia. Astros da NBA jogando para ninguém assistir e atletas desconhecidos, sem incentivo algum.
Distribuir ingressos para as escolas, então, quem sabe? Não seria inteligente demais para um lugar como o nosso. Simples demais. Não estamos acostumados a respostas simples. Não há como enganar ninguém com respostas simples.
Nossa educação, por outro lado, não precisou nem do Rio para mostrar sua debilidade. Basta lembrar que por onde a CBF passa com seus macaquinhos chutadores de bola há vaias e aplausos. Afinal, a torcida não é patriota, apenas gosta de festa e, sem espetáculo, bufadas vêm da arquibancada e xingamentos vêm da falta de uma terceira séria forte. Sobra é polêmica social pueril para dividir mortadelas e coxinhas. "A única diferença entre conservadores e progressistas é que os conservadores vão na missa das cinco e os progressistas na missa das oito", diria García Márquez.
Se a gente pudesse resumir bem resumido, ficaria claro que o Rio é a única capital moral, intelectual e cívica do Brasil. Isso inclui todos os seus defeitos e suas duas ou três qualidades.
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