terça-feira, 16 de agosto de 2016

O Estado das Coisas é de Guerra

Essa semana uma jovem oftalmologista morreu, após uma tentativa de assalto aqui em Porto Alegre. Recentemente, dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública mostram uma diminuição no número de furtos a veículos. Em contrapartida, há um aumento substancial nos casos de assaltos a mão armada, também tendo os carros como alvos. Com a melhor qualidade dos alarmes, chaves codificadas e dispositivos de rastreamento, o marginal precisa ser mais audacioso e abordar a vítima, enquanto entra, saí do veículo ou mesmo com ele em movimento. A abordagem, obviamente, é sempre violenta. Até onde sei, ninguém entrega seu carro em troca de flores.

No caso da oftalmo, me chamou atenção o testemunho da irmã da vítima. Ela disse que os criminosos tentaram abrir a porta que "estava trancada", como a investida foi frustrada, um meliante disparou contra o vidro, atingindo o abdômen da vítima. Graziela Muller Lerias tinha 32 anos, era médica do SUS no Hospital Banco de Olhos e morreu na hora. Se fosse uma velha de 80 anos e indigente, a truculência com a qual o caso merece ser tratado seria rigorosamente a mesma. 

Nenhuma lei injusta deve ser cumprida.

Com alguma frequência autoridade de segurança pública ganham espaço da imprensa para dizer mais do mesmo "não reaja a assaltos", "evite movimentos bruscos". Agora, pelo jeito, uma nova orientação deve ser "mantenha as portas do seu carro destrancada e os vidros baixos para facilitar a vida do assaltante".

Jornalista burocratas, incluindo a maior emissora de TV do Brasil e suas respectivas afiliadas, dão espaço para desarmamentistas. Invadem o velório das vítimas para distribuir panfletos do proselitismo político que alimenta seus salários através da publicidade. Enquanto isso, os corpos das vítimas se empilham nos necrotérios. 

O que vou dizer aqui não contraria nenhuma norma de segurança. Apenas tem relação com direitos individuais inalienáveis. Pois lá vai: a vítima tem o direito de reagir. É uma escolha dela. E, mesmo que essa escolha venha a ser frustrada, ela não é responsável pelo desfecho de um cenário montado por outra pessoa. O criminoso é o único responsável. Assim como a escolha de não reagir também só pode ser feita pela vítima. Ninguém tem o poder metafísico de influenciar essa decisão. No caso de uma autoridade pública que dá "orientações" a respeito de como se comportar o caso já é de desrespeito. Obviamente, orientações tão espúrias jamais seriam dadas em um lugar onde a segurança pública fosse levada a seria pelos responsáveis por sua gestão. 

A legislação do desarmamento, derrotada a respeito da venda de armas de fogos de forma acachapante no referendo de 2005, é uma aberração jurídica e descumpri-la não é um atentado grave, quando envolve preparo técnico e armas legalmente registradas em nome daqueles que buscam apenas preservar sua vida ou quem está a sua volta. No mais, o porte de arma não está impedido, como mentem e tentam confundir. Para aqueles envolvidos em atividades esportivas, tanto transporte como porte já são garantidos por lei. Obviamente, o preparo técnico para ter o pedido deferido pela Policia Federal envolve um conjunto de exigências muito alto. O marginal não faz pedido de porte algum.

Toda responsabilidade do cenário criado pelo criminoso é dele. Isso inclui o dolo as vítimas - fatais ou não - , "acidentes" envolvendo pessoas incluídas na cena do crime e, inclusive, uma retalhação da vítima causando a morte do marginal. Com alguma frequência, atrofiados mentais, auto-intitulados "defensores dos direitos humanos", usam argumentos como "mas ele só tinha uma faquinha e tomou dois tiros". Tenho uma novidade: faquinhas também matam. E só a vítima pode decidir se está disposta ou não a colocar sua vida à disposição em troca do agressor. A vítima não tem culpa, nunca. Ela nunca está "na hora errada", "no lugar errado". Nunca a vítima "se movimentou de um jeito brusco".

Quem não compreende e se compadece dos problemas sociais e educacionais que forma legiões de terroristas no Brasil é burro. Quem acha que alguém deve se submeter a isso, doando a vida e se entregando como uma ovelha para o abate, até que todos os problemas sociais e educacionais sejam resolvidos, é burro e ingênuo. 

Nosso atual estado das coisas é de guerra. Também sou contra a guerra. Apenas torço para quem atira melhor. 

No mais, segue a regra de ouro: não faça as outros o que não quer que lhe façam. Parece simples mas é preciso equilíbrio. 

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