domingo, 22 de novembro de 2015

Diário de Londres - Remembrance, Isis e Medo

Na semana passada eu não escrevi. Como o contexto sugere, as coisas estavam meio agitadas na Europa. No Reino Unido estava um pouco pior, afinal, já estou convencido que não existe um único britânico que trate a Ilha como parte da Europa. Parece-me que isso faz parte do conceito de "ilha", como se o substantivo não acrescentasse nenhuma informação ao sujeito.

Independente disso, posso dizer que a rotina de Londres não foi muito alterada com os ataques à Paris. Excluindo coisas óbvias, como o cancelamento de voos, trens e o policiamento redobrado em pontos de circulação de turistas, tudo seguiu seu curso normal. Inclusive, o Remembrance Day, marcado pelo 11 de novembro, mas muito celebrado no domingo que sucedeu os últimos atentados. A data marca o fim da primeira guerra mundial. Com os mortos da França, as celebrações desse ano ganharam um tom de atenção e melancolia na Inglaterra. Participei de algumas celebrações públicas, paradas e até usei uma poppy no meu chapéu, mas nada disso narra o medo de uma nova grande guerra, mesmo que as lágrimas da primeira guerra caiam apenas para lembrar o mundo como era uma gerra de trincheira, antes do sistema de bombardeios e o melhoramento de uma artilharia, cada vez mais de retaguarda. A coisa mais próxima daquele sistema de guerra sangrenta, no estilo"old school", é exatamente aquilo travado com os grupos terroristas instalados em zonas urbanas do Afeganistão, e olhe lá.

Uma coisa que não é dúvida aqui, e essa é uma separação diametral entre a imprensa da Ilha e do resto da Europa, é a certeza de tratar o Isis como aquilo que ele realmente representa: um grupo Islâmico e religioso. É assim porque ninguém jamais se incomodou de tratar o IRA como aquilo que ele também representa para a Irlanda: um grupo religioso católico. Ambos, são fascistas, radicais e com um profundo ódio à separação entre Estado e religião. A Al Jazeera é disparada a emissora de TV aberta no Reino Unido que mais dá voz ao chamado "Islã moderado". Fala-se muito em reformismo e a "primavera árabe" é citada a todo momento. O que eu garanto para vocês é o seguinte: não existe nenhum tipo de Islã suficientemente moderado para aceitar coisas elementares da civilização ocidental, incluindo igualdade de gênero, diversidade sexual, democracia e códigos penais que não apliquem a lei do Alcorão para punir os infiéis. Resumindo: se algum dia houver "Islã moderado", ele será uma coisa tão diferente do Islã que não precisará nem ter esse nome.

"Islamofóbico"

Se esse é o título dado a todos aqueles que se interessam por preservar as conquistas científicas, morais e políticas do ocidente, não me importo com o adjetivo. É evidente que ninguém deve ser agredido na rua simplesmente por ser muçulmano. Se isso acontece, não há notícias sendo publicadas sobre os fatos. Digo mais: infelizmente é muito comum imaginar que um problema é diferente do outro simplesmente em virtude das suas proporções. Para que um brasileiro médio entenda o que significa a luta contra o fim do Isis, é preciso imaginar uma ceita no quilate reacionário daquele professado pelo Silas Malafaia, acrescentar uma violência física que não existe ainda entre os neo-pentecostais brasileiros e elevar isso a um nível ultra-continental. Fosse o caso, eu seria cristofóbico ou o quer que seja.

Além disso, as manifestações públicas em defesa da intolerância são permanentes, ao menos aqui em Londres. Toda semana, há alguma marcha, muito bem guarnecida pela polícia metropolitana, de muçulmanos "exigindo seu espaço", o que inclui sempre invadir o espaço dos outros, mulheres impuras sendo colocadas em seu devido lugar e a volta para 1437,  coisas simples, claro.

Enfim, o Isis é um resultado de uma religião chamada Islã, composta por pessoas chamadas de Muçulmanos, não uma deturpação da fé ou coisa que o valha. Pelo contrário, é a fé levada às últimas consequências. Vai ser combatido como pragmatismo, utilitarismo e muito ceticismo. Cantar Imagine do John Lennon e compartilhas poemas do Quintana no Feicibuqui não faz parte da agenda de guerra contra o guerra. Lamento informar.

Sem mais, meritíssimo.

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