Nesse final de semana, o Brasil teve uma aula de civilidade nacionalista, seja lá o quê civilidade queira dizer por aqui. Entendemos, sim, é de nacionalismo, mesmo ignorando o perigo que ele representa. O nacionalismo é o primo-irmão do fascismo, tio rico do socialismo. Mas esse texto não é sobre essa enorme família. Pelo contrário, quero apenas sustentar a ideia de que existe uma diferença diametral entre protesto e manifestação. Se você se sente "brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", provavelmente, você é um bundão e vai ficar muito ofendidinho comigo.
Protesto é quando eu posso reclamar uma pauta que pode ser igualmente reivindicada por um outro grupo como não legítima, sustentando a opinião exatamente contrária. Se eu sair por aí com um cartaz pedindo a liberação do aborto ou da maconha, um grupo da igreja xis ou ípsilon está mais do que autorizado a ir às ruas reivindicar a criminalização do aborto e da maconha. Cartazes nas ruas pedindo o fim da corrução, exigindo um levante ético ou moral ou pedindo mais honestidade, por favor, não são protestos. É assim, simplesmente, porque não se pode sair por aí pedindo imoralidade, desonestidade dos homens públicos ou reclamando que não te colocaram na lista do petrolão.
Manifestação, ao contrário, pode ter uma pauta aleatória, mostrando apenas um tipo de desconforto com alguma coisa que agride o bem público. Pode ser pela morte de uma estudante universitária branca que subiu o morro para comprar um cigarrinho inocente e deu azar. Pode ser um chororó porque o preço do Toddynho subiu mais do que devia. E pode ser também contra o desgoverno que se vive, suas piadas públicas e contra sua completa falta de capacidade administrativa e habilidade política, coisa que conhecemos tanto quanto o nacionalismo.
Vocês devem pensar que eu parto do pressuposto de que brasileiro é tudo ignorante mesmo. Não. Eu parto dessa certeza. Uma nação que compreende política com o mesmo nível de complexidade que analisa um jogo de futebol e torce para um time, só pode estar na ponta errada do pragmatismo. Torcer em favor de um lugar desse tipo e sua população é o mesmo que torcer contra a humanidade. Somos covardes, entendam. Não somos beligerantes. Não temos hombridade moral para darmos nossas vidas por coisas nas quais acreditamos. Poucos de nós morreriam por sua liberdade. E isso não nos torna mais covardes que todos os outros latinos, mas, sem dúvida, muito mais engraçados, porque não abrimos mão de fazer com que tudo se pareça um grande jogo de futebol ou uma micareta fora de época. Somos o país onde Paulo Freire é referenciado como educador e Getúlio Vargas como estadista. Por aqui, tem muita gente que pensa que Lula é deus. Menos ele mesmo, afinal, o miserável, parco de alfabetização, tem certeza disso. "Um dia a história vai provar que eu fiz a coisa certa". Sim, senhor Jesus Cristo do Bananão. Sim.
Não peçam melhora enquanto acharmos normal pesquisas que não tratam "concurseiros" como desempregados e Feicibuqui for o ápice da nossa democracia. Covardes não merecem democracia. Devem se contentar com eleições regulares para escolher os covardes da vez.
Um comentário:
Não fui nas manifestações. A não ser que a gente considere que o voto é a única manifestação legítima de democracia genuína. Aí, eu fui. Texto coerente e esclarecedor. Abraço!
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