quarta-feira, 2 de julho de 2014

Voto obrigatório (ou: uma das melhores formas de sustentar a miséria)

Não tenho nenhum motivo para votar em eleições que acontecem no Brasil. Adoto a posição de indiferença absoluta e não me envergonho de dizer o seguinte: estou nas mãos da ampla maioria de analfabetos que o país insiste em sustentar. Sem problema. Pertenço ao povo, porque sempre fiz parte dele. Por povo, pouco me importa que entendam os financeiramente pobres. Sou exatamente eu. Então, me entrego de braços abertos e com a bunda empinada às vontades do povo.

Como se já não fosse vergonha suficiente ter nomes como Eduardo Campos, Aécio Neves e a Gilma em pessoa, ainda precisamos conviver com uma das maiores barbaridades políticas da história do constitucionalismo: o voto obrigatório! Imaginem quem, além de uma tripo e índios, teria uma ideia suficientemente tão bizarra de condenar seus concidadãos ao voto! Voto é direito, não obrigação. Ninguém deve ser obrigado a votar. Democracia pela metade é como mulher meio grávida.

A última vez que votei foi em 2002. Ajudei a eleger o Lula. Criei vergonha na cara, lógico. E nunca mais fiz uma bobagem dessas.

Qualquer um com decência, aliás, só deveria comparecer às urnas na medida em que se sente representado. Na medida em que as pessoas são obrigas a estarem ali, o candidato não precisa fazer mais nada, basta tentar conquistar a indecisão alheia, e não existe nada menos representativo do que alguém eleito dessa maneira idiota. Isso enfraquece todo o processo eleitoral, tornando a eleição o circo que a gente conhece.

Militantes do voto obrigatório sustentam, sistematicamente e com a insistência de carrapatos, que o voto facultativo incentivaria o voto de cabresto. Segundo essa idiotice, só iriam às urnas pessoas financiadas diretamente, através da compra de votos. Os outros eleitores, sem representatividade política ou financiamento direto, ficariam omissos.

Como se o Brasil precisasse de voto facultativo para ter voto de cabresto. A política coronelista, inclusive, é incentivada pelo voto obrigatório, na medida em que os intelectualmente mais estúpidos (a ampla maioria do eleitorado, portanto) pensa: "se tenho que votar por obrigação, vendo meu voto por opção. Do contrário, eu ficaria em casa, dormindo ou comendo um pé-de-moleque".

Só defende o voto obrigatório dois tipos de pessoas: os miseráveis morais e os espertos providenciais. O segundo grupo é o mais infeliz, porque incentiva a pobreza moral do primeiro e a pobreza financeira do maior número possível. Afinal, seu raciocínio eleitoral depende da pobreza. Seu grande elogio à pobreza é o assistencialismo perene. A certeza da reeleição é justamente dada pelo voto obrigatório e pelo financiamento sistemático da pobreza que obriga os indigentes a ficarem no seu devido lugar: o esgoto da urna, de onde nunca devem tentar sair. Sua prisão é a liberdade de votar em quem eles quiserem ou em quem trouxer a sexta básica menos básica.

Voltarei a votar quando algum candidato propor uma reforma política séria e, com ela, o fim do voto obrigatório.

Sem mais, meritíssimo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Se depender da reforma política meu caro, irásjustificar o teu voto até o fim dos teus dias.

Anônimo disse...

Se todo o poder emana do povo, então por que o povo não acaba com o voto obrigatório?

Anônimo disse...

Gafanhoto, a resposta está na sua pergunta: "PODER"!