terça-feira, 24 de junho de 2014

Mais Copa, por favor

Obviamente, tenho vergonha suficiente na fuça para não me manifestar a respeito de futebol. Diferente de muitos técnicos amadores sazonais que aparecem por aí, eu fui criado no tempo em que as pessoas tinham receio de deixar sua ignorância se manifestar em público. Não sou o comentarista esportivo Juremir Machado da Silva nem o observador político Diogo Mainardi. Por certo, a Copa do mundo não é só futebol. Então, tenho a liberdade de falar de coisas que entendo também. 

Passado o fedor do "não vai ter Copa", deu tempo para prestar atenção nas reais influências do evento. Dos R$ 8bi gastos com estádios, o Planalto diz que nenhum centavo veio dos cofres públicos. Apenas a metade, R$ 4bi são recursos financiados pelo BNDS, um banco público. O governo quer que a gente acredite que esse dinheiro será resgatado com juros, correção monetária e impostos pagos. Se eu contar essa história para meu sobrinho de oito anos, a pobre criança vai começar a acreditar que ninguém paga os presentes de natal. É tudo financiamento do governo, esse grandiosíssimo papai noel. 

Com a injeção dos R$ 4bi na conta das empreiteiras, o custo da construção civil subiu e o governo controlou assim a inflação em outros setores. A onda de desemprego que virá não é preocupação de ninguém. Até lá, as eleições já passaram. Se o Brasil ganhar a Copa, melhor. Se perder, teremos segundo turno de qualquer jeito. E Michel Temer, o maior chefe de quadrilha do país, continuará seu governo de panos cobertos e quentes, enquanto Lula posa para as fotos com cara de candidato. 

Meu pensamento capitalista, claro, vê tudo como retorno financeiro ou eleitoral. É a mesma coisa, aliás. 


Em Fortaleza, as meninas que pensavam poder decretar aposentadorias com a alta demanda de turistas, ficaram chupando do dedo. E outras coisas também, mas pelos mesmo preço de antes. Descobriram que turista que gosta de futebol não tem dinheiro para gastar com meretriz feia. 

Dois mercados diferentes. Óbvio que o turista que gosta de futebol não é o mesmo que vem para um GP de fórmula um. E os poucos com cobre nas guaiacas não estão nem aí para os jaburus com cara de cigarra velha dispostas no turismo sexual de calçadas. 

É assim mesmo. Um amigo meu estava sonhando em alugar o apartamento dele por R$900 a diária. Sonhou até o último minuto. Acabou conseguindo alugar, mas por menos da metade disso. Demora um pouco para que o mercado se ajuste a realidade. Lembrou-me a autorização da tirania cubana para que seus súditos pudessem comprar e vender imóveis entre si. Depois de quase 50 anos de intervenção estatal, ninguém sabia o valor real de absolutamente nada. Hoje a coisa já anda mais controlada e até gringos podem ir para a ilha mágica do comunismo investir em imóveis. Baita comunismo rola bosta esse. "Culpa do embargo", dizem os militantes sequelados.

Portanto, ainda estamos no período de ajuste. E a Copa é curta demais. Nem dá tempo para se ajudar, na verdade. Sugiro, honestamente, que o Brasil se habilite para sede universal e perene do mundial de futebol. Aí sim, a gente vai se transformar em uma Suíça em 10 anos. 

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