Brasileiro não gosta de futebol

Sustento uma tese velha que consiste na conjunção de duas sentenças simples, empiricamente verificável:

brasileiro não gosta de futebol; brasileiro gosta de ganhar. 

Quando criança, vi esse povo torcendo pelo Ayrton Senna. Duvido que 5% da população tenha condições de pagar um ingresso para um GP. Duvido que 2% consiga entender as regras que um piloto tenha que seguir para entrar nos boxes. Pouco importa, se havia um brasileiro ganhando é o que nos interessa. Acho bem humano isso.

Também vi um país inteiro acompanhando o Guga no tênis. Tênis! E isso lá é esporte para terceiro mundo?! Mesmo assim, estávamos lá. Torcendo como se fizéssemos ideia do que estava acontecendo em Roland Garros. Por favor, nem pra pronunciar Roland Garros!

Ultimamente, começamos a acompanhar algumas lutas de MMA. Olhamos no canal aberto ou pela internet e dizemos que um lutador tem mais técnica que outro e blá blá. Tudo que queremos é um brasileiro desfilando no carro de bombeiros e alguma festinha para acompanhar no intervalo entre as novelas.

Uma das provas mais empíricas de que não gostamos de futebol é o fato de que logo deixamos de torcer quando estamos perdendo. Não somos argentinos, bairristas profissionais, capazes de gritar e empurrar um time mesmo com três gols a favor do adversário. Nosso bairrismo é amador. Meio desagradável. Sustentamos, de peito aberto, que um lugar é melhor do que outro com base no genial argumento de que nascemos lá. 

Vaiamos nossa derrota, porque não sustentamos nossas vitórias com a hombridade de alguém que mereça ser vitorioso em qualquer coisa. Não estamos dispostos a nos sacrificar por nada. Não somos tão homens assim, senhor Hemingway.

Sem mais, meritíssimo.