terça-feira, 27 de maio de 2014

O fascismo não tem limites. Os fascistas precisam ter

Advertência: esse é mais um texto sem uma conclusão óbvia e pré-agendada. A probabilidade de ser mal interpretado por pessoas sem a terceira série forte no ensino fundamental é muito grande.

O fascismo não acaba nunca. Adormece, hiberna, mas um dia volta. Se por fascismo restar a ideia dos totalitarismos do século XX, é porque falta explicação para o conceito. Fascismo pode ser muita coisa e se manifestar em lugares tão distantes do poder central quanto uma obra de Camus está distante de uma telenovela brasileira.

O fascismo está mais vivo do que nunca. E nunca esteve tão presente na permanente tentativa de pessoas cada vez mais populares e parcamente instruídas de tentar estabelecer um pesamento hegemônico, ditando o certo e o errado por meio do grito e do escândalo público.

Vou arriscar, como sempre, uma resposta minimalista, mas ampla. Se o fascismo precisasse ser reduzido a apenas uma explicação seria a seguinte: todo fascista honesto é alguém com pretensões honestas de salvar o mundo. Para realizar tal empreendimento, hostil a individualidade, é preciso, por força ou convencimento, tornar as pessoas uma coisa só. Persuadir a multidão para que persiga as vozes dissonantes e atropele aqueles que não são suficientemente iluminados para compreender porque o bem e a justiça devem ser empurrados goela a baixo, sem discussões ou reparos.

Aristóteles não tinha a palavra fascismo a sua disposição. Mesmo assim, já sabia que todos os homens agem conforme lhes pareça o bem geral. Politicamente, ninguém age com o intuito deliberado de prejudicar a coletividade. Não é de se surpreender que a mistura entre as disciplinas de ética e política foi visualizada antes por Aristóteles do que por qualquer outro na história.

De Adolf Hitler a Getúlio Vargas; de Che Guevara a Garrastazu Médici. Todos fascistas. Do programa Mais Médicos ao Tea Party. Fascistas. De Nixon a Lula da Silva: fascistas-mor.

O principal problema das leituras contemporâneas que interpretam o fascismo consiste na presunção de pensar o movimento como uma especie de catarse coletiva. Explicar o fascismo com conceitos como nacionalismo e totalitarismo é começar a contar a história a partir do seu final, mais óbvio e pedante. Não devemos nos preocupar com estados fascistas.

O que precisa ser erradicado são pessoas fascistas. Estas devem ser identificadas. E a intolerância é a única coisa que não deve ser tolerada, desde a sua genealogia mais profunda.

Para identificar fascistas eu sugiro, portanto, isso: procurar por pessoas com i) o desejo honesto de salvar o mundo e com tendências propagandistas para suas ideias; e ii) o desejo profundo de praticar o bem indistintamente, sem a preocupação do interesse dos demais em receber a boa-aventurança sugerida.

Meu projeto envolve o cinismo original: desmascarar cretinos e sua tendência de sobrevalorizar o coletivo frente ao individual. Trata-se da única questão política genuína.

Identificar o fascismo, depois de algumas centenas de mortes, é fácil. Precisamos é identificar agentes do fascistas.

Já ouviram a lorota da fragilidade da vareta isolada que se quebra sem resistência? Os miserentos tentam convencer a gente de que varetas unidas perdem a fragilidade. "O coletivo é mais forte", dizem. Fascismo puro. Basta lembrar o feixe de varetas do Partido Nacional Fascista. Ele servia para unificar e fortalecer o machado, preparado para rachar as dissidências e os inimigos oficiais do coletivo.
Quando você ouvir uma lorota dessas, agora está avisado: fascista no raio de alcance.

Sem mais, meritíssimo.

Um comentário:

erminio lopes junior disse...

. O que explica por que uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos.