terça-feira, 29 de abril de 2014

Não servimos mais para tarefas domésticas.

A cultura da hiperatualização do consumo acabou com o homem resolvedor de problemas.

Paulatinamente, o macho que desmontava um televisor inteiro à procura de um único fio com mau contato foi substituído por um especialista em administrar o limite de três cartões de crédito, ao mesmo tempo. O papai pão-duro deu lugar ao “amigão” que troca o iPhone da família inteira todos os anos. Aliás, a morte do homem foi decretada por falência múltipla dos testículos no primeiro dia dos pais onde surgiu a dúvida: “uma furadeira nova ou um iPad?” Agora, é irreversível. Temos que administrar o próprio luto.

Claro que não fomos enganados por produtos substituíveis do dia para a noite. Nem nos tornamos afrescalhados na velocidade do preparo de um Miojo. Isso nos foi vendido muito vagarosamente, ao longo dos últimos anos. Não pensem que é fácil convencer um homem a respeito da sua própria incompetência. No geral, os homens fizeram parte de uma espécie completamente cega a respeito da sua completa ausência de habilidades manuais durante muitos séculos.

A “Família Urso”, desenho da mesma franquia da “Turma do Pica-pau”, ficou uma década inteira vendendo a incompetência masculina na televisão, entre os anos de 60 e 70. No Brasil, o produto foi comercializado até recentemente na televisão aberta e serviu como base para a manutenção da audiência infantil. Quem sabe ainda esteja no ar em algum canal. Não sei.

Incontestavelmente, trata-se uma animação muito divertida, pois consegue fazer piada de um estereótipo bem caricato e pouco explorado da macheza, nossa incompetência aliada à teimosia.


A mesma criança que adorava se divertir com as trapalhadas do papai urso cresceu, se tornou um adulto imprestável e não consegue nem desentupir a própria caixa de gordura sem telefonar para o encanador.

Encanadores, eletricistas e pedreiros eram adjetivos usados apenas na construção civil de escala industrial. E isso não faz lá muito tempo. Jamais esses profissionais seriam aceitos no dia a dia de uma casa habitada por um homem, desses aos quais estou me referindo. Com toda certeza, estaríamos comprando brocas maiores para instalar nossos próprios condicionadores de ar, não fosse maluquice toda.

Realmente, é difícil reconhecer como isso aconteceu. Especialmente, considerando que temos mais acesso à informação. Problemas domésticos que eu não conseguiria resolver, até pouco tempo atrás, podem ser pesquisados com facilidade e, unindo internet e o amigo dono da ferragem, é praticamente impossível ignorar afazeres elementares que podem ser resolvidos em alguns minutos e não precisariam esperar a agenda de um “profissional". Profissional é o dono da ferragem. O resto a gente ouve, presta atenção, mas faz cara de quem já sabe do que se trata. Basta ultrapassar a barreira do conformismo e conforto.

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