segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As máscaras somos nozes

A ideia de anonimato que atormenta a internet chegou às ruas. E agora?

A tese de que as pessoas estão ficando afeminadas não me convence. Ela não é sequer relevante. O que vejo, sinceramente, é muito mais apavorante: estamos, dia após dia, mais covardes. Quando vejo os revolucionários de final de semana usando máscaras, me pergunto: eles realmente raciocinam? Se consideram a sua causa justa e, em grande parte eu penso que ela pode ser, o que leva alguém a boicotar a própria identificação. Muito provavelmente, essa ideia descabida de solidez tenha ganhado força com a internet. Na primeira oportunidade, ganhou as ruas.

Aqui, na terra onde qualquer interpretação vale como uma interpretação, independente da sua qualidade, o mérito dos debatedores é produzido pelo número de idiotas que essa pessoa tem como "seguidores", "amigos" ou filiados de suas teses babacas.

Mesmo o anonimato sendo vedado pela Constituição esses miseráveis se apoiam em recursos desprovidos de ajuizamento e argumentações. São responsáveis por um raciocínio que só faz sentido dento da lógica interna aceita pelas suas mentes doentias. 

"No Gods. No Kings. No Masters. Just a guy in a mask tells us what we have to do", Edson Aran.
O Aran foi irônico. Mas a maioria pensa assim mesmo. O que nos faz idolatrar o anonimato é a mera vontade de vomitar verborragias inocentes e desprovidas de significado. Não queremos ser responsabilizados pelas nossas inconsequências verbais. Disso, segue-se naturalmente, a necessidade de nos mascararmos, inclusive em público, quando queremos protestar. "Não tenho pauta. Não tenho representatividade moral ou legitimidade política. Mas posso me proteger com uma máscara". Esse é o pensamento médio.

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 não poderia ser mais objetivo e preventivo. Qualquer dificuldade de interpretação do texto constitucional é resultado de algum espírito muito impressionado com um filme que retrata a vida de um cara que preferia uma teocracia ao parlamento inglês.

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato

Entender, a partir disso, qualquer outra coisa é alucinação ideológica. Nada que ultrapasse o mero texto fará o menor sentido para alguém que realmente sente orgulho de suas posições. Para homens, as máscaras sempre serão estranhas anedotas, na sua grande maioria vindas de desenhos animados e heróis mordidos por aranhas radioativas. Quem precisa procurar dentro de si mesmo os heróis das histórias em quadrinhos poderá ser um bom telespectador do House, mas nunca alguém com alguma relevância política.

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