quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Se não temos escravos, o mérito é dos ingleses

Realmente, eu me sinto muito idiota quando eu vejo setores da esquerda, infelizmente a ampla maioria, pensando que cotas, ações de inclusão sociais e outros elementos que fazem parte do liberalismo de forma endrógena foram inventados na semana passada por um grupo de canalhas. Em qualquer livro brasileiro de história, distribuído ao longo do ensino fundamental e médio, os ingleses do século 19 são os vilões responsáveis por destruírem... a escravidão de negros no Brasil!

Sim, senhores e senhoras. Os malvados ingleses da revolução industrial, segundo os historiadores brasileiros, cometeram o grande desaforo histórico de nos livrarem da escravidão.

É preciso ser meio estúpido ou nunca ter aberto o texto de algum humanista inglês daquele período para acreditar nessa fanfarrice. De longe, uma única edição de um jornal como Frazer's Magazine era mais feminista e dedicado as causas de libertação dos negros do que o Brasil jamais poderia ser desde 1500 até 1830, ano em que o periódico começou a circular. Mesmo com esse fato registrado em quilos e mais quilos de papel, a esquerda-porra-louca latino americana prefere resumir a história com essa frase, ou qualquer variante dela, encontrada aos montes:

Os ingleses tinham interesses em expandir a venda de seus produtos industrializados e precisaram ampliar mercado, incluindo o Brasil na sua lista de compradores.

Primeiro, é mentira. O Brasil não era relevante para os produtos industrializados ingleses. Eles vendiam maquinário para a produção e não sabonetes. Seus clientes jamais seriam trabalhadores assalariados, apenas outros industriários gananciosos.

Segundo, é irrelevante. Se o capitalismo é mola propulsora para o estado de bem-estar social ou para o fim da escravidão, ponto para ele.

Um conjunto de ações afirmativas e o estado de bem-estar social, com todos os seus acertos e erros, só pode fazer sentido dentro de um estado economicamente liberal. Não há registro na história da humanidade de um estado comunista que respeite a ideia de bem-estar social. Trata-se de uma invenção dos ingleses para funcionar dentro de uma democracia nos moldes da inglesa, capitalista, e não diferente dela.

A Inglaterra tinha um problema com os negros para resolver muito mais pessoal. Tratava-se dos escravos ao oeste do território indiano, uma pauta recorrente de reclamações entre os intelectuais ingleses liberais. Havia inclusive liberais filiados ao mundo hedonista, como Jeremy Bentham, que defendiam abertamente, com um século e meio de antecipação, o direito dos animais! Que malvados esses ingleses!!

Os ingleses inventaram a democracia, inventaram o humanismo libertário, acabaram com a escravidão no Brasil e, no pacote, deram assistência social estatal para os desassistidos, algo antes feito apenas pela enfadonha igreja.

Senhores historiadores, deixem as invenções de seus colegas de lado e se deem ao trabalho de ler algum liberal inglês do século 19. Adam Smith, David Ricardo, John S. Mill. Qualquer um. Leitura e prudência não matam ninguém.

Para o caso específico da escravidão, sugiro o maravilhoso ensaio de Mill e sua esposa, a feminista Harriet Taylor, The Negro Question, de 1850.

2 comentários:

Plauto disse...

Esse texto é um atentado antiterrorista! Na minha humilde opinião, ficou muito bom! Não sou ninguém para parabenizar mas, de qualquer forma, você está de parabéns!

Everton Maciel disse...

obrigado, plauto!