segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os best sellers não são moralmente emancipados. Nunca

Existem dois tipos de livros, os mais vendidos e os bons. A vida é muito curta para perdemos tempo com livros ruins. Franz Kafka escreveu que somente devíamos ler livros que nos ferem e despertam para uma nova realidade:

“Se o livro que lemos não nos desperta violentamente, como uma pancada na cabeça, para que nos dar o trabalho de lê-lo? Um livro tem que ser como a picareta para o mar gelado dentro de nós”.

O trecho foi tirado de uma carta de 1904, endereçada ao amigo Oscar Pollak. Existe um motivo para não haver um único livro bom em uma lista de livros mais vendidos. Os livros mais vendidos, e isso não é um fenômeno brasileiro, precisam necessariamente ser ruins. O escritor precisa estar intimamente "conectado" com seu público leitor. Precisa definir sua ação a partir da percepção que ele tem daqueles que vão receber sua obra. É o que faz Paulo Coelho ser um sucesso mundial, sem nunca ter escrito um único livro que preste. O sucesso de um escritor de massa está ligado a sua capacidade de compreender e ser compreendido.

Isso não fez Fiodor Dostoievski entrar para a história. Crime e Castigo teve repercussão por ser um livro perturbador. Estar numa lista de mais vendidos consiste justamente no contrário: o livro precisa confortar. O leitor precisa ler e dizer "nossa, parece que ele escreveu para mim". Como uma dessas músicas sertanejas chorosas ou uma comédia romântica qualquer. Dostoievski é um livro que rende teses acadêmicas justamente pela sua nebulosidade psicológica e pelo fato do escritor ter tido a liberdade de romper barreiras e esburacar o cérebro do leitor. Além da genialidade de conseguir fazer isso, claro.

Os livros mais vendidos não podem ser moralmente emancipados do seu público, precisam dialogar com o leitor e não romper a barreira do silêncio, um acordo tácito entre o autor e si mesmo. Você acha que o Luiz Felipe Pondé ou o Paulo Coelho são tão retardados quanto seus livros? Lógico que são pessoas cultas, inteligentes e informadas. Eles apenas fizeram uma escolha. Ambos queriam ser escritores na lista dos mais vendidos, e conseguiram. Lendo um livro do Pondé, você pode achar que há muitas "verdades que precisavam ser ditas". Ledo engano. O que o Pondé escreve consiste basicamente naquilo que o público que o consome, gente que ele conhece melhor do que ninguém, quer ler. O resultado será sempre um sucesso.

Sempre que leio um livro que dialoga comigo sei que estou lendo um livro medíocre. Porque eu sou medíocre. Livros bons são aqueles que nos tiram do chão, como observou Kafka. Seria Kafka um medíocre também? Sempre que lia, com certeza. Todo leitor aceita essa posição em silêncio. E é isso que nos torna pessoas melhores. 

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