Da janela, ouço um grupo de jovens gritando "SEM VIOLÊNCIA, SEM VIOLÊNCIA". Fico pensando que ir para um protesto sem correr o risco de tomar umas bofetadas da polícia é o mesmo que aceitar o convite para um strip poker sem estar disposto a encarar um bacanal.
Quem acha que protesto sem violência resolve alguma coisa só podia ser do mesmo grupo de alucinados que acredita em almoço grátis. Os caras realmente acham quem faz sentido reclamar passe livre nos ônibus sem ter que encarar o Renan Calhorda se pronunciando como se fosse a salvação da pátria em pessoa? Não se sabe quanto, exatamente, essa história de passe livre vai custar para os cofres públicos. A única certeza é que o cumprimento com o chapéu alheio custa muito mais caro do que com a livre concorrência da iniciativa privada.
Toda empresa de ônibus que se preste sabe fazer duas coisas no Brasil: enlatar pessoas e adulterar planilhas de custo. A maioria faz muito bem as duas coisas. O item mais caro na planilha de custos de uma empresa de ônibus, sempre é a isenção. Todo mundo quer andar de graça: velhos, deficientes... melhor: idosos, portadores de necessidades especiais (politicamente correto, sempre!), policiais e vários passageiros na onda do "é público é de grátis".
As universidades públicas são de graça, a saúde pública é de graça. Tudo é de graça. Agora, o transporte será gratuito para estudantes. Só que não!
Tudo tem um custo. Justiça social não se faz com isenções que oneram os cofres públicos e inflam o estado. A quem estude em universidades públicas e, por questão de justiça social, deveria pagar pelo serviço. Estamos mais próximos de voltar a andar em cipós do que fazer rico pagar universidade no Brasil.
Precisamos da abertura total de contas de todas as empresas concessionárias: universidades, pedágios, hospitais e, claro,transportes. Essa deveria ser a pauta. Mas as antas preferem dar voltinha de busão de graça. Deveríamos saber exatamente qual o lucro anual que vai para o bolso do empresário. Simples assim. A isenção é mais uma oportunidade para o superfaturamento dos serviços públicos que já acontece em escala industrial.
Existe outro elemento da planilha de custos de uma empresa de ônibus que não pode aparecer: o financiamento da próxima eleição. Isenções só vêm para agravar esse problema. Mas eu não espero que alguém no ritmo "SEM VIOLÊNCIA, SEM VIOLÊNCIA" entenda algo, mesmo sendo tão elementar. Tem mais que entrar para a borracha mesmo. Por burrice.
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