quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Eutanasiar a burrice ninguém quer

O problema principal do jornalismo especializado é que ele não tem pós-graduação, não é especializado em coisa nenhuma.

O Jornal Hoje publicou uma matéria-denúncia sobre uma médica que praticava "eutanásia". O que os macacos-de-redação não sabem é o que significa eutanásia. A eutanásia, como meu sobrinho de 7 anos sabe, é a morte por declaração ou procuração, formal ou não. "Suicídio assistido" é uma outra péssima definição, já sepultada por qualquer teórico sério da bioética.

A médica paranaense, segundo a acusação, matava pacientes do SUS para beneficiar outros, vinculados aos convênios, com os respiradores da UTI do hospital evangélico no qual ela trabalhava. Nota: o hospital evangélico está sendo acusado de matar pacientes. Isso é assassinato. Eutanásia seria se a burrice pedisse "me mate, por favor".

Usar o conceito de eutanásia para identificar uma médica acusada de assassinato deveria ser um outro crime: contra a inteligência da discussão. É um desserviço às pautas sérias que buscam tornar a eutanásia uma alternativa em favor da dignidade humana.

Se algum paciente tivesse pedido para morrer ou se alguma família tivesse pedido a morte piedosa de um paciente em coma irreversível, isso seria eutanásia. Qualquer outra coisa envolvendo humanos é assassinato. As pessoas têm inclusive o direito de sofrer. Como gostam de sofrer os evangélicos e muitos outros. Eles podem fazer o que quiserem com sua dor.

*** Ponto. Nova linha ***

Quando querem falar sobre a saúde de cães e gatos, os jornalistas procuram veterinários. Quando o assunto é a saúde de humanos, os médicos são pautados. Quando o problema é a comida, chamam os nutricionistas. Ninguém procura um professor de ética porque, segundo a burrice vigente, a ética é uma questão de opinião. E opinião sobre ética é algo que não precisa de especialista. A respeito disso, basta esperar a eutanásia da burrice. Mas ela insiste em viver. É cristã, judia ou muçulmana. Talvez, a burrice seja neopentecostal ou batista. Não sei.

Se, e somente, se a acusação proceder, a médica que trabalhava para o tal hospital evangélico deve ser presa por assassinato. A eutanásia seria contra qualquer doutrina evangélica.

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