domingo, 13 de fevereiro de 2011

O ex-juiz, um ex-servidor público: um contraponto aos "concurseiros"

Quando um juiz federal ou estadual é processado, o caso corre em segredo de justiça. Por quê? "Para o bom funcionamento do sistema judiciário", prevê a legislação. Na prática, nós só sabemos do resultado dos processos. Aqui na província de São Pedro, um caso tem chamado a atenção pela sua estranheza. Resumindo pra quem não sabe: um magistrado entra numa sorveteria, faz elogios considerados indecorosos a uma jovem [casada], é denunciado, processado e, por fim, perde o cargo. Aqui, mais a respeito.

Como pensamos que juízes, promotores, e vários outros servidores do judiciário são pessoas especiais, damos a eles [sempre] tratamentos especiais. Inclusive no momento da punição. Provavelmente, eu seria punido com prestação de serviços a comunidade ou algo parecido. Com certeza, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul não chegaria nem perto de saber quem eu sou.

Vendo o vídeo da entrevista desse juiz e observando o pouco caso com o qual ele trata a decisão, é possível até advogar a favor dele. No lugar de ser penalizado como alguém normal, ele perdeu um salário de R$12mil e a estabilidade do cargo público. Ambas as coisas tiram o sono de milhares de brasileiros que prestam concursos públicos desesperadamente todos os anos. No caso do juiz demitido, o condenado não está nem aí para isso. "Pra mim, era só um cargo público", Marcelo Mezzomo disse ao repórter da Zero Hora. Ele nem pensa em recorrer. Diz que vai advogar, dar aulas e não está nem aí para o empreguinho de juiz. No fim, segundo ele, se livrou de um fardo. Quando o assunto é abandonar a folha de pagamento estatal, Mezzomo já tem até prática no assunto: foi sargento do Exército e perdeu o cargo também por conta de uma punição militar.

Duas coisas despertam minha curiosidade permanentemente e me senti atiçado pelo caso Mezzomo. Primeiro, o Brasil é um país onde, se perguntada, a maior parte da população em idade produtiva diria achar interessante trabalhar em algum cargo público. Os "concurseiros", como são chamados, movimentam, inclusive, um mercado de ensino paralelo. São motivados, em geral, não apenas pelo salário, mas, principalmente, pela estabilidade: um benefício provinciano que fomenta maus serviços prestados à população.

Em segundo lugar, como escrevi no Facebook para o desespero dos afetados, "no setor público, qualquer retardado pode ser qualquer coisa. Vaga em concurso concorrido não significa inteligência, muito menos sobriedade mental". Na prática, quero dizer que se você sonha em ter o benefício da estabilidade, você é um fracassado que não daria certo em absolutamente mais nada na vida e, realmente, eu desejo que você não dê certo inclusive no funcionalismo público. A prática é contrária ao meu desejo. Lá você não só não daria certo como também seria pago com o dinheiro do contribuinte e estaria na linha de frente dos péssimos serviços públicos prestados nesse país. Funcionário público bom é mau, sofre na labuta. O sistema não tolera ela.

Tenho pesadelos com o dia em que viverei em um país de burocratas.

5 comentários:

Severino disse...

muito interessante!

Ana Zyk disse...

UAU... bem deveria me sentir ofendida pois, faço parte do grupo acima citado mas não faço parte das condições do grupo acima citado. Um beijo na testa!

Anônimo disse...

Se um concurso público não garante inteligência (teríamos aqui de dicutir o que é inteligçencia, do ponto de vista do articulista), ter um blog onde se diz a bobagem que se quer muito menos.

João Mezzomo disse...

Me esqueci de informar meu nome: João Batista Mezzomo, de Porto Alegre.

Everton Maciel disse...

Não tem problema, Mezzomo. Mesmo sem teu nome não faz parte do meu perfil bancar censor. Entrou aqui pra ler minhas bobagens? Já fez mais do que eu queria.