segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O último nerd

Eu conheci um nerd. Foi na década de 90, século passado. Chamava-se Rodolfo Rodrigo Rota. Até nome de nerd a mãe deu para o coitado. Foi o último nerd que eu conheci. Provavelmente, um dos últimos que tenha existido na face da terra. Rô, como era chamado pelos não-nerds, não lia Crepúsculo, nem mangá. Não se vestia de cosplay. Em geral, não participava de evento bissexuais, como Campus Party. Gostava das revistas da falecida Marvel, especialmente do Capitão América. Afinal, achava o Homem Aranha ruim, porque era jornalista. Faz sentido. Jornalista ou tem talento para cult ou para retardado mental. Sempre nos extremos, e nunca um nerd original. Com 14 anos, Rô já conhecia Os Elementos, de Euclides, e entendia muito de geometria espacial. Um nerd profissional.

Rô se formou em engenharia. Engenharia de verdade: civil. Nada de engenharia da computação, engenharia química ou elétrica. Essas ramificações que existem por aí são engenharia para nerds contemporâneos. Essa putice não era tão escancarada no século 20. Não era tão fácil ter um diploma e se passar por nerd. Os nerds da geração Playstation podem fazer engenharia hídrica ambiental. Foda-se. Isso só garante um status superior ao encanador da obra aqui de casa. Claro que um nerd de verdade não se submeteria a algo tão ridículo.

Não saberia dizer como Rô reagiria aos novos consoles de jogos. O máximo que ele conheceu foi o Nintendão. Depois de se formar em engenharia, Rô trabalhou uns meses, comprou uma moto - Yamaha Virago, se não me engano - e se arrebentou na traseira de um caminhão no Chile. O corpo dele veio divido em três pedaços. Velório de esquife fechado.

***

Hoje em dia, existem sub-ramificações de nerds. Poderia detalhar algumas delas. Tem nerd blogueiro. Nerd emo. Nerd zumbi. Mas não tenho mais paciência para isso. Em geral, se você tem internet de alta velocidade, bastante tempo livre para punhetiar na frente do seu Sony Vaio e paciência para baixar e assistir todos os episódios do The Big Bang Theory, você já é um nerd. Não importa que quase 100% dos telespectadores do seriado da Warner Bros não saibam quais são as três leis de Newton. Não interessa se sua pontuação no Enem só te garante uma vaga em engenharia de cama, mesa e banho na Uniban. É a popularização do impopular. É a autenticidade separando aqueles que são e fracassados que querem ser.

3 comentários:

Diógenes Roncatto disse...

Corrigindo um trecho do seu texto. "Rô se formou em engenharia. Engenharia de verdade: civil. Nada de engenharia da computação, engenharia química ou elétrica."
Saiba que engenharia elétrica não é menos engenharia de verdade que civil. É consenso entre os estudantes de engenharia que a elétrica é mais difícil que a civil.

Anônimo disse...

Não espere nada de um jornalista que nem como profissão é mais reconhecido hoje em dia :)

Everton Maciel disse...

Não esperem nada de pessoas sem identidade que não conseguem conjugar uma frase sem começo, meio e fim.