sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Minha preocupação com as rádios (1 de 3)

Trabalho em rádio desde antes de sair das fraldas e já fiz de tudo nessa área. Mesmo assim, nunca escrevi aqui sobre essa experiência. Principalmente, porque julgo isso demasiado desinteressante para as pessoas que não são do meio ou não estão acostumadas com as mazelas do setor.

Dentre todos os veículos de comunicação, a rádio é a mais surpreendentemente maleável. Com isso, quero dizer que é possível fazer rádio de todo jeito ou de jeito nenhum. Esse paradoxo ficou estabelecido, especialmente, depois que aconteceu o fenômeno que aboliu o roteiro das rádios, a partir da década de 60 e 70. Antes desse período, era preciso saber escrever para trabalhar nas redações desses veículos. Assim como um jornalista de jornal, o postulante a radialista ou nascia com uma voz premiada para ser locutor ou buscava seu posto na outra ponta do trabalho: atrás da máquina de escrever. Pessoalmente, confesso que não participei desse período romântico, mas conversei com um suficiente número de colegas para saber de detalhes tão simples.

Com a popularização da televisão nos lares brasileiros, a rádio não perdeu espaço - como previam alguns apocalípticos. No entanto, ela rapidamente se adaptou, tornou-se mais efêmera e conseguir manter e ampliar seu público, trabalhando com questões locais e, antes de tudo, substituindo o velho texto pela apresentação ao vivo.

Esse movimento aparentemente interessante teve alguns resultados desagradáveis. Vamos relatá-los tentando explicar como se apresenta a atual situação da radiodifusão. Seria importante que o leitor desconsiderasse o fato dessa escrita ser produzida por um profissional do setor. Minha intenção aqui é defender a qualidade e isso pode ser feito por qualquer ouvinte regular de rádio.

Hoje, as grandes emissoras ainda conservam espaços dedicados aos noticiários textuais. Essa programação não é tratada como museu dentro das rádios. Os mesmos veículos – geralmente, ligados a grandes grupos - conseguiram inovar seus procedimentos metodológicos e inserir na sua programação sonoras ambientadas em material coletado fora do estúdio, reportagens com bons textos em meio a programação ao vivo e repórteres especiais trabalhando em setores nevrálgicos como trânsito, previsão do tempo e serviços de utilidade pública. Isso para não citar os espaços esportivos, polícia e política, que sempre mereceram atenção especial desde o início do novo processo.

Mesmo com todos esses avanços o ponto mais importante a ser mencionado é que a modernização não atingiu homogeneamente as rádios. Diferente da TV, onde é preciso um aparato técnico mínimo e, necessariamente, excussões de equipes a campo para coleta de imagens e outro tipo de material, a rádio ainda pode ser feita, apenas, de dentro de um estúdio. Levanto em conta isso, nas rádios do interior, há uma crescente desvalorização do trabalho coletado na rua, onde as coisas realmente estão acontecendo. Geralmente, esses pontos são atendidos apenas por setores que motivam grande interesse da população, como polícia e esportes. Em outros casos, as rádios também vendem coberturas especiais de eventos, promoções e todo tipo de atividade quase circense com algum interesse público, mas mais interesse comercial. Pequenas emissoras – supostamente dedicadas à informação – dificilmente têm mais do que um ou dois repórteres trabalhando para elas. As consequências disso tudo são audíveis: programação musical em meio às notícias coletadas da internet ou até mesmo de jornais impressos. Sim, ainda em pleno século 21, notícias que são conhecidas pelo jargão “gillette press” são lidas no ar. O velho guerreiro, escrito 24 horas antes, é usado diariamente por radialistas para preencher lacunas em sua programação. Matinalmente, os ouvintes são submetidos à famosa “enchida de linguiça” com os jornais estampados em papel com tinta e muita notícia fria.

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