terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Errar é humano; responsabilizar o próximo, nem se fala

Leandro dos Santos Falcão, acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia da UFPel

Sempre que as coisas não vão bem para a comunidade, procura-se saber as causas e atacá-las, de modo a melhorar o bem estar dos humanos. Poderia dar inúmeros exemplos, de pensamentos formulados em situações desfavoráveis ao desenvolvimento e que de certa forma contribuiu para sanar o problema em questão.

Na idade Média, Deus através da revelação nos dava ordens, e através da sua vontade determinava nossa vida. Apesar de muita gente dizer que Ele ainda faz isso. Kant foi, em sua época, um marco no pensamento ocidental: a partir de seu escrito a responsabilidade do agir humano estava nas mãos do ser humano. Não havia mais ninguém a determinar nossas vidas, senão nós mesmos. Pode-se ler no prefácio da primeira edição do livro “a religião nos limites da razão humana”, o seguinte: “... o homem, enquanto ser livre que por isso mesmo se obriga, por sua razão a leis incondicionais, não tem necessidade nem da idéia de um ser diferente superior a ele para conhecer seu dever...”

Na idade moderna, o povo era oprimido, e parece muito oprimido, pelo Governo, ora nas mãos de Absolutistas, ora na mão dos Burgueses. Até, finalmente se libertar e poder ser então oprimido pelos Ricos donos de fábricas. Por algum tempo, durante a guerra fria, alguns eram oprimidos pelo Povo que tomava o poder a força, e outros se oprimiam pelo povo ao qual dávamos o poder.

Na história dos povos então há o que sempre se convencionou chamar “luta de classes”. Todavia Deus não nos punirá mais por termos mais dinheiro que o próximo, não pode mais ser responsável por nós, reles mortais. O Governo não nos punirá, tomando nossas terras quando querem ou estrangulando movimentos contrários a si. A culpa do nosso fracasso não pode mais ser atribuído a eles. Os ricos hoje em dia, viram pobres com freqüência, dando a vez a outros pobres serem ricos por uma geração ou duas, A “classe dominante” está tão instável que não pode mais se dar ao luxo de orquestrar malvadezas contra o povo “ignorante”.

Logo a quem cabe a responsabilidade do nosso fracasso? A nós? O quão revoltante pode ser isso, a admissão de nossas falhas, ou a possibilidade de poder crescer, mesmo mediante certo trabalho? Não podemos ficar inconsoláveis: nossa brilhante classe intelectual brasileira achou outro vilão malvado: o “Sistema”, que ainda hoje substitui o Deus, o Governo, os Ricos e Burgueses e ainda o Povo-ao-Qual-Damos-o-Poder.

Todavia, hoje as coisas são bem diferentes: nosso presidente veio do povo, era pobre. Nas faculdades noturnas, como aquela em que estuda o autor deste breve artigo, estão cheias de pessoas trabalhadoras, mecânicos, faxineiros, e não somente os filhos dos ricos, como há muito tempo se ouve que são onipresentes nas faculdades brasileiras. Já elegeram presidentes mulheres na Argentina e Afro-descendentes nos Estados Unidos. Será que nestes tempos de mudança o povo realmente precisa de um vilão malvado para pôr a culpa de suas falhas, quando hoje podemos mudar de vida com algum esforço? E será que esse vilão tinha que ser justamente o “Sistema”? Quem forma o Sistema? O povo. Que eufemismo.

Os professores de hoje em dia criticam o sistema, como se pudessem mudá-lo. Quando mudarem, o que vai ficar no lugar? Em quem vamos por a responsabilidade de nossos atos? Leia-se nesse caso, a CULPA por nossos fracassos pessoais. A Responsabilidade dos atos humanos é de quem os pratica, não há dúvida disso. Crianças costumam pôr a culpa das coisas em outros, mas nós, como humanos, deveríamos ter aprendido o que REALMENTE COMPETE a nós e a mais ninguém. É evidente que a cultura católica nos influencia, o governo nos cobra ações, e a economia nos prega peças, mas o que fazemos com isso é problema nosso e não somente da religião do governo, dos ricos e muito menos do Sistema.

Se por acaso o presente artigo desagrada alguém ou pode ter algum erro semântico, provavelmente é culpa do editor, do cara que revisou ou do aumento do dólar que impediu a compra de modernos sistemas de correção. Não, por hipótese nenhuma, ousem criticar o pobre autor desse artigo, já que é somente mais uma ovelha sendo pastoreada por esse Sistema malvado e cruel.

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