domingo, 7 de dezembro de 2008

Dolores

Do site de Jayme Copstein, uma das maiores figuras da imprensa gaúcha

Moacyr Gutierres, do Correio do Povo, de Porto Alegre, foi figura folclórica do jornalismo antigo. Posteriormente, formou-se em medicina e trocou a reportagem policial pelo consultório, ganhando renome como ginecologista.

Era uma figura alegre. Junto dele ninguém conseguia ficar muito tempo sem cair na gargalhada. O que lhe valeu muita popularidade, também, nas casas noturnas, então concentradas, uma ao lado da outra, na Sete de Setembro e na Siqueira Campos.

Foi em uma dessas casas – terá sido no Alemãozinho ou na Floripa – que manteve agitado romance com uma mulher amalucada, de nome Dolores.

As brigas do casal ganharam fama pelos desaforos hilariantes que trocavam. Uma das frases, digna de antologia universal da loucura inventiva, se isso existisse, não pode ser reproduzida publicamente.

Às brigas, sucediam-se açucaradas reconciliações, como de praxe entre enamorados. Dolores lhe telefonava para a redação e dizia com voz doce:

- É a Dolores, Moacyr...

E ele corria para os seus braços. E o vulcão entrava novamente em erupção.

Com o tempo, porém, Moacyr cansou do tumulto e rompeu o romance, desta vez firmemente decidido a repelir qualquer tentativa de reaproximação. De fato, poucos dias depois, estava na redação do Correio, em início de noite, quando tocou o telefone. A voz falou suavemente:

- É a Dolores, Moacyr!

- “Vagabunda!” Moacir berrou. “O meu dinheiro tu nunca mais vais ver!”

Não houve silêncios do outro lado. A resposta veio trovejante:

- “Moacyr, aqui é Dolores Alcaraz Caldas! Nunca fui tão ofendida e humilhada na vida!”

Dolores Alcaraz Caldas era a proprietária do Correio do Povo, mãe do diretor Breno Caldas. Quando Moacyr gaguejou pálido a história, um pesado silêncio cobriu o pessoal da redação.

Ouvia-se até o zumbido das moscas quando o “doutor Breno” chegou às nove da noite, para baixar os editoriais e os artigos de fundo. Em vez de ir diretamente para seu gabinete, foi à mesa de Moacyr. Todos esperando o pior, o que se ouviu foi:

- “Moacyr, o que tu tens contra a minha mãe, heim?”

Explodiu a maior gargalhada que a velha redação ouviu algum dia. Em seguida, Breno Caldas acrescentou:

- “Desaparece por um tempo, toma férias, te evapora até que o ‘rolo” passe e a mamãe se acalme”.

Breno Caldas sofria de prognatismo – queixo saliente – o que lhe dava um ar de antipatia. Não era nada disso.

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