quarta-feira, 29 de outubro de 2008

SONETO DETECTADO [721]

Glauco Mattozo, poeta letrista, ensaísta e cego punk

Poeta que conheço é redator
num órgão cujo "emeio" tem censura.
Qualquer palavra insólita ou impura
será denunciada ao Superior

Mas é o computador que a ser censor
se arvora e escolhe a esmo o que dedura.
Um vírus desse tipo não tem cura,
e o termo interditado agora é "flor"!

Coitado do poeta! Proibido
de usar seu mais cromático instrumento
verbal! Por tal critério, não duvido

que, em vez de "passarinha", esse luxento
programa um "passarinho" tenha lido
e o vete de voar livre no vento...


A polêmica envolvendo a banalização dos grampos nos leva a aventar a ameaça dum estado policial no Brasil, mas a questão é mundial. Vou contar três casos ocorridos comigo, e juro que não é fantasia nem delírio de poeta. Em 2003, meus emeios ao confrade Cláudio Daniel voltavam, barrados sempre que a palavra "flor" era detectada no texto. Ele simplesmente alegou que a empresa na qual trabalhava bloqueara indevidamente aquela palavra em seu escudo protetor. Escudo? Eu, hem? Pior foi quando, já em 2007, um emeio meu jamais chegou ao destino, mesmo reenviado, e depois de muito testar descobri que era por conter os sonetos 1536 e 1537, que falavam, apoiados em anotações verídicas, da tortura aos prisioneiros em Guantánamo e Abu Ghraib, cujos nomes eram rastreados internacionalmente. Tive de reenviar tais sonetos através do endereço eletrônico dum amigo, para que um terceiro amigo pudesse colocar no meu sítio o conteúdo do linque abrangendo os sonetos 1501 a 1550. Na mesma época, todas as mensagens poéticas que eu enviava a endereços do Hotmail voltavam, recusadas por transmitirem "conteúdo pornográfico". Pornô, eu? Tudo eu, tudo eu! Ninguém tem paciência
comigo! Nunca fui paranóico nem adepto fanático da teoria da conspiração, mas aquilo me intrigava. Passado algum tempo, as interceptações cessaram. Acho que alguém, lá na CIA, no Pentágono ou na NASA, ou algum robô de plantão, percebeu que fiz aqueles sonetos sem
querer querendo, que aquela verdade apenas me escapuliu, e que a poesia não representa a menor ameaça contra o Sistema, ainda que composta por um cego punk. Será mesmo?

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