André Machado*
Como um brasileiro de 40 anos, tive o privilégio de votar para governador e presidente logo nas primeiras vezes em que fui a uma seção eleitoral. A lembrança de um tempo antidemocrático ficou restrita à minha infância. Aprendi rapidamente a escolher meus candidatos – espero – e lutarei sempre para manter este direito.
Na discussão da reforma política pelo Congresso Nacional, muitos têm criticado o sistema de listas. O argumento é que seria uma possibilidade de cassar do eleitor o seu direito de escolha. O tema pode ser visto por um enfoque totalmente diferente. A votação em uma lista dá
ao eleitor uma oportunidade maior: a de eleger uma bancada.
Hoje, o brasileiro escolhe um nome quando vota para deputado. Este candidato pode ou não se eleger. Mesmo não eleito, o voto do eleitor serve para fazer legenda e assim leva para o parlamento outras pessoas inscritas no mesmo partido ou coligação. Assim se ajuda a colocar no
Congresso políticos com os quais não se tenha nenhuma identidade.
Com a lista fechada, isto não ocorre. Ao escolher a sua lista, o eleitor irá escolher uma bancada inteira. Se o candidato preferido for, por exemplo, o sétimo da lista, já se sabe que antes dele virão outros seis. Se o eleitor não concorda com esses nomes, pode rever sua escolha e optar
por outra lista que lhe agrade mais. Por isso não acredito no argumento de que as listas serão manipuladas pelas cúpulas partidárias.
O que o sistema fará é criar partidos de verdade. As listas existem no Uruguai, e dois dos principais partidos do país são centenários. Os pequenos se uniram e montaram a Frente Ampla, que, junta, chegou ao poder. A consistência ideológica é uma virtude ausente do atual quadro
partidário. A mudança do sistema de escolha vai forçar ainda mais a democracia interna nas legendas.
No entanto, o medo do novo e a defesa de interesses pessoais fez com que a resistência à mudança crescesse entre os deputados, que já poderiam ter aprovado as listas. Surgiu a proposta de um sistema híbrido. Estão preparando um monstrengo que vai permitir o aparecimento
constante de figuras bizarras no Congresso e que chegam lá mais por sua extravagância do que por sua contribuição à política nacional. Exatamente como ocorre hoje.
E, o que é pior, não vai diminuir a ocorrência de caixa 2. Ou alguém duvida que um candidato que esteja no final das listas não vá investir pesado na campanha para tentar, via eleitor, alterar a escolha do partido? Se for assim mesmo, para que partido? Então que concorra cada
um por si.
Gostaria de votar em listas. A lista amplia o direito de escolha do cidadão. A lista permite ao eleitor defender uma idéia, não um nome. É a chance de influenciar na escolha de um Congresso. Em 2006, a soma dos votos dos 31 deputados federais eleitos pelo Rio Grande do Sul chega a 3.480.480. Foram às urnas 6.676.828 gaúchos. Ou seja, os votos de 3.196.348 eleitores serviram apenas para formar o quociente eleitoral.
*André Machado é jornalista, âncora do programa Manchetes da TV Com e do Gaúcha Atualidades da Rádio Gaúcha. Esse texto foi plicado originalmente no jornal Zero Hora em 18 de junho de 2007. Confira mais no Blog do André Machado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário