quarta-feira, 19 de março de 2008

O protecionismo não tem um sentido sustentável

Everton Maciel

Todas as manhãs têm sido iguais: reviro os jornais de Pelotas, leio parcialmente os periódicos da Capital do Estado e ouço, no mínimo, duas rádios ao mesmo tempo. Além, claro, de vasculhar todos os sites de notícias dos principais jornais brasileiros, El Clarin da Argentina e alguns sites de notícias da Europa. Trata-se de uma atitude impensada. Faço isso automaticamente.

Hoje pela manhã, ouvia um apresentador de rádio fazendo uma defesa improcedente da regulamentação das profissões de radialista e jornalista.

Mais uma vez o “argumento” ridículo que compara jornalistas a advogados e médicos era usado por alguém que sequer consegue apresentar uma definição razoável para a própria profissão.

Seguindo o exemplo de qualquer veículo de comunicação com mais de dois neurônios, o Blog do Capeta, em opinião unânime de seus colaboradores, defende que o jornalismo é uma profissão essencialmente intelectual e que, apenas, faz uso de artifícios técnicos para a propagação de informações e opiniões. Qualquer afirmação contrária, tentando comparar o jornalismo com profissões técnicas, não encontra argumentos que ultrapassem os limites das paixões ideológicas e a preocupação com a perda do próprio emprego.


A definição não acadêmica de jornalismo

Esquecendo as respostas acadêmicas pré-estabelecidas, a pergunta “o que é o jornalismo?” é, antes de tudo, uma questão antropológica. O “ser-jornalístico” está ligado à capacidade organizacional da história da humanidade. Nenhuma definição razoável para a pergunta pode partir do próprio jornalismo. Isso acontece porque, simplesmente, o jornalismo tem outra função, que veremos a seguir.

Filosoficamente, o jornalismo pode ser visto como a tentativa, muitas vezes frustrada, de reproduzir o que podemos chamar de realidade relevante. Os fatos, acontecimentos sociais e posições opinativas que exercem algum tipo de influência sobre as pessoas de um determinado meio podem ser considerados como realidades relevantes, ou seja, interessam a um grande número de pessoas e merece discussão pública. É justamente nesse contexto que surge historicamente o jornalismo.

Na Grécia, berço da civilização ocidental, as discussões eram fecundadas em pequenos grupos de pessoas e gestadas em praça pública. As discussões públicas tiveram vários ambientes, mas esse ponto não possui relevância suficiente para a conclusão do nosso argumento.

Com a chegada a imprensa, através da fabulosa invenção de Johannes Gutenberg (retrato ao lado), o espaço da discussão foi alterado. Os jornais, apesar de menos democráticos e de acesso mais dificultado no século 15, passaram a ocupar o espaço das posições políticas e mais tarde das notícias. Até hoje, a palavra impresa carrega, etimologicamente, “prensa”, justamento porque Gutenberg inventou uma prensa que servia para prensar letras no papel.

Mas foi só no século 18, que a imprensa ganhou o formato semelhante ao de hoje. O papel da discussão foi alterado definitivamente. A “prensa” passou a se chamar jornal. Isso aconteceu porque os periódicos (chamados assim graças à periodicidade com que são publicados) passaram a ser jornais. Recorrendo mais uma vez à origem das palavras, jornal vem de diurnalis. Uma relação direta ao dia, àquilo que é diário.

O jornalismo, até pouco tempo, era restrito aos jornais. Contemporaneamente, a atividade se estendeu aos veículos de comunicação que foram surgindo no século 20. Rádio, TV e, mais tarde, a internet passaram a ocupar espaço nesse contexto. Como a complexidade do sistema se ampliou, a informação começou a ser mais plural e chegar a um número maior de pessoas.

A operacionalidade dos meios de comunicação modernos acabou exigindo técnicas avançadas para que os veículos sejam operados. Técnicos são necessários para que os veículos estejam no ar. A técnica pode ser ensinada em cursos de qualificação profissional. A capacidade jornalística não está além do esforço de compreensão da realidade.

O jornalismo continua sendo o mesmo desde a prensa de Gutenberg, passando pelo surgimento do rádio, da TV ao Blog do Capeta.

Um comentário:

Anônimo disse...

é isso ai Everton, o protecionismo, querendo que todos cursem jornalismo para exercer a profissão é tão absurdo quanto querer que os Ronaldinhos, Robinhos e cia. cursasem educação fisica antes de ser jogador de futebol.
Abraço