Eu cheguei a Porto Alegre há pouco mais de quatro anos. Gostei muito daqui, mas eu sou bem pouco exigente, mesmo. A Porto Alegre de quatro anos atrás, nem de longe, nada tinha a ver com essa de hoje. Temos assaltos desde tempos remotos. Ganhamos o latrocínio como regra. A sujeira eventual se transformou na constante. A destruição e o desinteresse na manutenção de prédios históricos, particulares e públicos, vai de encontro com à pichação insistente, dessas que dá desânimo de limpar porque amanhã estarão lá de novo. O morador de rua, antes resultado da falta de oportunidade, agora é o consumidor de crack e foi multiplicado na mesma proporção com a qual distribuímos poder de compra e não transferimos renda real. Maximizamos a desigualdade dentro de um governo dito de esquerda e esperamos resultados "reformistas" de um grupo ainda mais mascarado.
A real é que nós somos ruins demais em absolutamente tudo o que fazemos. Negar isso é uma mistura de paixão nacionalista pueril com esperança tosca. Quem conhece a forma como lavamos nossa salada não tem coragem de chegar perto do nosso churrasquinho. As ruas de grande metrópoles são só o resultado mais visível da nossa incompetência. Violência, greve, falta de transporte, saúde, educação e Uber são as consequências não as causas dos nossos problemas morais e intelectuais. Nada disso é diferente de estradas intrafegáveis e da insistência em ignorar meios de locomoção a longa distância mais viáveis. Afinal, quem vai vender pneu para trem, não é mesmo?
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Cezar Schirmer e um colega de quadrilha mais bem sucedido |
Porto Alegre se transformou no resultado prático das nossas aberrações. O secretário de segurança do Estado, um debochado chamado
Cezar Schirmer - homem que num país justo estaria indiciado por homicídio culposo no caso onde 242 pessoas perderam a vida durante sua gestão como prefeito de Santa Maria, dentro de uma boate -, tem a audácia de afirmar que "não se faz segurança pública só com brigadianos". No mínimo, 50 chibatadas, nu, na praça da Alfândega, se o brasileiro (e o gaúcho ainda mais) não fosse um
povinho permissivo. Ultrapassamos o nível da indolência e empilhamos corpos como se nada fossem. A audácia do criminoso é inversamente proporcional à falta de controle do lugar onde ele se encontra confortável para ser aquilo que ele nunca deixou de ser: bandido. A média dos cidadãos está disposta entre uma massa de marginais de quinta categoria e aqueles controlando todas as esferas de poder. Eles não ganham de nós numericamente, mas ganham em capacidade de agir. Quanto mais não encontram reação, mais numerosos são seus roubos e estelionatos. Aquilo que dispomos hoje para fazer a prevenção e contornar o prejuízo não é suficiente sequer para juntar os corpos. Não passamos nem perto de contornar o prejuízo. Quanto mais a bandidagem age, mais oportunidades surgem para que ela possa seguir agindo. Estamos enxugando gelo.
O estrago produzido em Porto Alegre pelo somatório de políticas nacionais, estaduais e municipais geridas por macacos corruptos, se revertido a partir de hoje, demorará 10 anos para ter reflexos práticos. Honestamente, creio que devemos admitir, sempre que olharmos para nós mesmos, nosso país, filhos e aqueles que elegemos: as coisas deveriam estar ainda piores.
Todo otimismo deve ser censurado.
Um comentário:
Não é possível considerar sério um governo que tem um secretário de segurança como o nosso. Nem um povo que aceita isso.
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