sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Diário de Londres

Sim. O que foi o diário de um banana virou diário de Londres. Ou: ao menos vai ser assim por algum tempo. Estou na capital que inventou a civilização ocidental - e não considero isso mérito nenhum, levando em conta os resultados do negócio. O que me trouxe até aqui foi... não interessa. Minha vida pessoal é tão interessante quanto a novela das 8. Minhas primeiras impressões daqui são estupidamente pueris e superficiais. Não posso contribuir em nada com o conhecimento de ninguém. Essa foi minha segunda noite em um apartamento de três andares. Sempre ouvi muito falar dos telhados de Paris e blá blá. Grande coisa. Eu estou morando em um telhado de Londres. É pequeno, estreito e insignificante como a vida e tem uma janela menor que a de muitos banheiros lá de Campina das Missões, donde saí. No teto tem uma claraboia charmozinha, mas que não tem fechado direito e a luz da manhã, obviamente, me deixa irritado. Arrumei um jeito de tampar o buraco com jornal. Só o que me faltava dormir em um lugar com uma "claraboia charmozinha".

A imigração do Reino Unido é a coisa mais raivosa, constrangedora e delinquente que já vi na minha vida. Eu não tive problemas, mas vi um casal de asiáticos ser muito constrangido. Ao lado dos guichês de imigração, há umas cadeirinhas, onde os agentes simplesmente colocam as "pessoas de castigo", para serem atendidas de um jeito mais demorado e por outros agentes. Estrategicamente, os agentes de imigração eram de todas as etnias possíveis. Fui atendido por um indiano muito simpático, até. Para não dizer que ele fez seu trabalho sem "complicar minha vidinha", mandou eu adiantar minha passagem de volta em UM dia. Nenhum problema para quem vai ficar vários meses aqui. Disse que iria trocar e ele apertou minha mão. Nunca pensei que um agente da imigração apertasse a mão de um latino americano. E só estou contanto isso para PROVAR que nem a esquerda nem a direita estão certas ou erradas em quase nada. São burros e apaixonados partidários. Só isso.

Por falar nisso, a esquerda que odeia esse lugar precisa saber de uma coisa: a saúde pública aqui funciona, a grande maioria dos policiais são gentis, mesmo que você esteja fazendo uma coisa, mais ou menos, errada e os britânicos tentam ajudar os estrangeiros, sim.

Ao menos tempo, a direita que pensa ser aqui a terra da liberdade não vai conseguir comprar um litro de cerveja no mercado depois de um determinado horário - notei horários finais de venda de bebida diferentes, deve ser diferente pra cada região de Londres. Ou você tem sua cachaça em casa ou vai para um pub pagar seis pounds por um pint.

Há mendigos na rua, sim. Eles pedem "your change, for God" e já fui abordado por casos mais estranhos, como um cara de Chicago que dizia tentar arrumar dinheiro para alimentar a família lá. Mendicância internacional. Tem lei do desarmamento, sim. O que me deixa muito de cara. O mito de que o policial não está armado é muito demente. Todos eles estão preparados para acionar a força armada a qualquer momento, por rádio ou botão de pânico e isso acontece com frequência, levando em conta o entra e sai de viaturas do prédio com as sirenes aos berros. Dei o azar de morar exatamente na frente do prédio de uma central de polícia antiga, ainda em atividade. Tive o azar de tirar uma foto da minha janela e um oficial simpático me abordou. Ele disse para não fazer outra vez. E eu prometi que sim, com minha cara de estrangeiro babaca. Nem pediu meus documentos nem nada. Só falou na tal zona de segurança contra terrorismo e pronto. O uso de viaturas discretas é muito grande. Você está atravessando a rua e, do nada, um Aston Martin do James Bond aciona as sirenes e dispara.

O bairro universitário onde eu moro é repleto de casas do estudantes que parecem aqueles filmes bobões do Harry Potter. Mas no nível universitário, ou seja, sem a gravatinha e a capinha. É mais o caso do Harry Potter fumando um cigarro na frente de Hogwarts e da Hermione desafiando o frio com uma saia curta e bebendo um pint. Também há uma estação de trem internacional aqui na volta. Muitos hotéis de todas as categorias e subcategorias possíveis. Eu fiquei num hostel bem legalizinho até. O café da manhã valeu a estadia. Estava exausto e morto de fome no meu primeiro dia aqui.

Não vou transformar o meu descontinuado blog em um diário, como sugere o título dessa publicação. Eventualmente, posso vir falar de coisas genérias do lugar e meus próprios desafios. Se eu ficar mais de um mês sem escrever, suspeitem que eu esteja em algum boteco de Amsterdam, fugindo da lei seca. Não esperem que eu fique postando fotos porque não tenho paciência para isso. Nem quero ser prezo.

Sem mais,

Cordiais saudações da corte,

Everton Maciel

Um comentário:

Coruja disse...

Charmosinha, não?