quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Diário de Londres: volta às aulas

Setembro é mês de volta às aulas em boa parte do Reino Unido, depois das férias de verão. Não que haja verão por aqui. Mas tem isso que eles "chamam" de verão, fim da primavera, quando a grama das praças seca um pouquinho e dá para até pegar um sol de sunga branca em um parque qualquer.

Camden, onde vivo em Londres, é um bairro tido como folclórico. Além de pontos como Camden Town e Islington, é bastante residencial e há um número significativo de escolas de ensino médio, próximas da Russell Square, um grande centro universitário. Como sou do terceiro mundo, foi uma coisa que achei bacana de se ver: as crianças e adolescentes com seus uniformes, aqueles brasões heráldicos bonitões de 150 anos atrás. Os sapatos bem lustrados dos meninos e os vestidos de peguinhas das meninas. Todos com gravatinhas, mostrando as cores da escola com algum orgulho. Também é notável a diferença latente entre as escolas da coroa, as seculares e as cristãs. Eu acho bem legal. Especialmente, quando a diferença é só essa; não tão discrepante na qualidade, mirada sempre em um nível alto, e nunca naquilo que há de mais baixo em termos de ideologia política.

Serei mais honesto. O que eu acho mais legal mesmo é a distância segura da qual as crianças dessa ilha são mantidas da pedagogia do oprimido. Ah, isso, sim, é demais! Para respeitar as diferenças individuais, dentro da escola, as crianças são todas genuinamente iguais. E essa é a esperteza da coisa. O filho do judeu, do muçulmano e do budista-indiano estão na mesma escola que aquela criança tipicamente britânica com cara avermelhada e cabelos pendendo para o loiro grosso.

É visível a naturalidade com a qual o governo e as escolas tratam a igualdade de oportunidades. Nesse mês, recebi o jornal da prefeitura do bairro e eles estavam comemorando uma escola municipal com um aproveitamento destacado. Fizeram uma foto dos formandos do ensino médio. Uns 25 adolescentes. Dava para contar nos dedos aqueles que tinham cara do esteriótipo tradicional dos britânicos. Uma foto colorida que só vendo (Aqui link pra matéria. Achei na net). Orientais, negros, latinos. O aluno escolhido para destaque da assessoria de imprensa estava comemorando com a turma e os professores um lugar no curso de medicina da University College London, um daqueles pequenos pontos no mapa mundi que concentram a elite da ciência mundial, com uma boa quantidade de nobéis e medalhas fields.

Vou repetir, caso vocês tenham esquecido: uma escola municipal! Se alguém tiver notícia de um estudante que tenha tido acesso à faculdade de medicina no Brasil, vindo de alguma escola municipal de alguma capital federal, publiquem aí.

Podem me acusar da síndrome de vira-lata ou qualquer coisa do tipo. Prefiro virar minhas latas buscando exemplos razoáveis do que roer carne de pescoço e arrotar caviar.

Sem mais, meritíssimo.

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