Não sou suficientemente babaca para organizar aquelas listas 45 motivos para não votar em alguém e 13 motivos para se masturbar com o santinho do outro candidato, o mais bonito da história. Não faço parte desse nicho. Enfileiro-me, com muito mais naturalidade, ao último esquadrão de reacionários militantes, orgulhosos de seu ateísmo materialista e instrumentalismo estético. É um clubinho apenas para pessoas de estômago muito forte. Desistam de mandar currículo.
Já disse que me esquivo de votar em virtude da obrigatoriedade do voto. Mas não me importo de dizer em quem eu não votaria, ao menos nesse momento da história do país. Não preciso de motivos para não votar em alguém, nem para votar. Quem cobra motivos externos à consciência humana para a deliberação eletiva são pessoas de um caráter desprezível. No geral, elas abominam a consciência individual e são perigosas, porque acreditam em um justificacionismo alheio à normatividade.
A atual campanha eleitoral mostrou a confusão entre partido e governo. E isso precisa ser combatido, agora, por motivos pedagógicos inerentes a uma nação que, talvez no futuro, queira se dizer democrática. Do contrário, vamos continuar acreditando em conspiracionismo midiático e no maniqueísmo oferecido como suporte institucional. Vamos todos nos tornar Tarsos Genros e colocar a ignorância do povo em um grande pedestal, acreditando que todos os que não pensam como nós estão sendo iludidos. Afinal, sabe o Tarso Genro, aqueles que não pensam como ele são ignorantes, maleáveis e curvados aos interesses da Rede Globo. Indivíduo autônomo, é claro, vota no PT.
Não se trata de um mero raciocínio pelo bem da alternância no poder. Jamais me preocuparia com alternância de poder. Se quiserem eleger o Lula monarca soberano, realmente, isso não me importa. Contanto que não saiam por aí dizendo que eu dei a ideia! É importante pensar em 2014, isso sim, como o ano em que podemos apostar na independência entre a vida das pessoas e o governo central (e o ano em que tomamos 7 a 1 da Alemanha, em um jogo tão desproporcional quanto o número de cabeças cortadas pelo Estado Islâmico, com o apoio do Itamaraty). Eu falo de uma estabilidade moral e política, onde possamos minimamente avançar sem desagravos, compreendendo que o governo é menos importante que a sociedade, especialmente quando o assunto é o bem-estar social. Ou fazemos isso agora, ou vamos entrar para a fila onde a Argentina está e não conseguirá sair: a vanguarda do atraso político, econômico e social. Quem milita nessa vanguarda da retaguarda tem raciocínios absurdos como tentar gerenciar um país capitalista com métodos bolivarianos de manutenção do empobrecimento dos miseráveis e enriquecimento dos mais abastados, algo que só o anticapitalismo faz tão bem quanto o capitalismo selvagem.
As pessoas não devem ser desestimuladas em votar pensando nos próprios benefícios. Jamais. E estou me referindo a um argumento inventado pelos ricos e comprado recentemente pelos defensores da manutenção sistemática da pobreza em troca de um prato de comida (ou um tablet da Sansung. É a mesma coisa).
Mais cedo, quando vinha da universidade onde estudo com bolsa paga pelo contribuinte brasileiro, conquistada pela minha excelente colocação dentro do processo seletivo, mas arrotada pelo governo central como uma espécie de esmola, a qual eu devo ser grato pelo resto da vida, eu vi um casal de velhos, esperando o ônibus. Eles eram publicamente achacados por um grupo de estudantes. O erro? Carregavam, em suas lapelas, adesivos da campanha eleitoral contrária a manutenção do atual governo. Uma demonstração de apoio discreta a um determinado candidato ao Planalto. Naquelas circunstâncias, tratava-se de uma ofensa moral aos estudantes bolsistas do Prouni ou mesmo pagantes, da esquerda caviar. Portanto, o casal de velhos merecia um misto de ofensas, risadas e uma dose, segundo ouvi, de piedade: por não fazerem parte de um grupo social muito mais esclarecido a respeito do passado, presente e futuro do país.
Se é isso o que há de melhor na nossa democracia, vou me manter na posição de reacionário, durante um bom tempo. Não reagir, nesses casos, é coisa para pessoas medrosas e de estômago muito fraco. Você está livre para não ajudar a eleger o atual governo e estará livre para criticar o próximo, algo que vai ser feito por uma oposição raivosa que hoje não existe mais.
Não usem a ponte Rio-Niterói, se não gostaram do governo militar. Esqueçam o Real como moeda se não gostaram da política econômica do FHC. Ignorem as oportunidades de estudo em instituições federais oferecidas pelo governo Lula, se não toleram o Bolsa Família. Mas, por favor, jamais creditem o louvor e a censura de um avanço ou retrocesso social apenas ao partido que está administrando a sua vida. Essa é uma postura mais miserável que qualquer esmola distribuída em troca de votos.
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