quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Todo mundo é homoafetivo

"A respeito da sua mente e do seu corpo o ser humano é o único soberano", John Stuar Mill. 

Como tenho histórico de defesa do homossexualismo, das liberdades individuais, da não intromissão do estado na vida de todo mundo, das ações afirmativas e muitos outros radicalismos, eu posso falar a respeito disso de peito aberto. Não preciso me preocupar previamente com o xiitismo dos movimentos ligados aos partidos políticos e ideologias com histórico anti-liberal. No geral, são apenas grupos de covardes que compraram uma discussão sempre pronta e ficaram tentando reformular os detalhes, conforme sopram os ventos dos seus interesses doutrinários.

Não sei quando inventaram a palavra homoafetivo. Visivelmente, trata-se de uma construção para jogar um pouco de purpurina em cima do termo homossexual, conceito consagrado que busca identificar o interesse sexual de uma pessoa por outra, do mesmo sexo. Quem sabe, os inventores da escabrosidade conceitual tenham, ainda, a intensão de tirar o homossexual do registro dos comportamentos sexuais e inseri-los em um ambiente de liberdade afetiva que nada tem a ver com o ato sexual em si. Não sei. Só sei que tentar fazer isso é uma burrice tremenda. Mas não vem ao caso. Fato é que não existem pessoas heteroafetivas. Logo, não existem pessoas homoafetivos. Ou é assim ou todo mundo é homoafetivo. Explico para os que sabem ler:

Tentar complexificar a terminologia, apenas complica a defesa dos direitos dos homossexuais. Queremos entender que eles, homossexuais, não são afetuosos com pessoas do sexo oposto? Duvido. Queremos dizer que heterossexuais não podem ser afetuosos com pessoas do mesmo sexo? Duvido mais ainda. Todo mundo tem alguma relação de afeto por alguém do mesmo sexo. Então, o uso da expressão homoafetivo acaba esvaziando o significado da própria ideia, além de ser confuso na precisão do que realmente quer dizer. Não é a esse tipo de pessoa que queremos nos referir quando usamos a palavrinha mágica tirada de dentro de uma cartola escura. 

Não duvido, no entanto, que o homossexual necessariamente precise estabelecer uma relação afetiva para manter uma relação sexual. Isso parece mais óbvio do que andar para frente. Mas a ideia de homoafetividade continua não acrescentando nada ao debate. Não se trata de defender os direitos de um homem heterossexual que tem afeto por um amigo. O buraco é muito mais embaixo. 

Tudo que conseguimos amplificando o som de um conceito é inserir elementos obscuros, aleatórios e que pouco contribuem para a conversa. Quero apenas imaginar que o ignorante que criou a expressão é apenas um panfleteiro meio burro e ficou impressionado com a sonoridade da geniosa descoberta. Não encontrei registro em inglês que fizesse uma referência a ideia de 'afeto' ou qualquer coisa do tipo. Parece ser uma invenção do terceiro mundo mesmo. 

Não acho que a sexualidade humana caiba em cartilhas marxistas impressas pelo governo. 
Não é possível sustentar desigualdade de direitos civis para homossexuais.
Não é possível enquadrar definitivamente a vida sexual de alguém em um rótulo. A sexualidade é um interesse que, visivelmente, pode variar ao londo da vida do sujeito. 
O fato inabalável é: ninguém pode dar palpites a respeito do que você faz na sua intimidade. 

Não espero que as pessoas que insistem em introduzir a ideia absurda de homoafetividade como um ponto passível de discussão pública deem atenção a minha posição. Sempre que faço isso, uso as letras e essas pessoas têm alguma dificuldade de interpretação de texto e outros problemas neuronais. Apenas tenho certeza de que a invenção de um palavreado novo não altera a gênese do problema.

Por fim: é preciso ter uma postura de liberal para sustentar a defesa dos direitos dos homossexuais com alguma envergadura moral. Há menos de 40 anos, Fidel Castro ainda estava perseguindo e matando pessoas que apenas tinham o interesse de viver sua sexualidade livremente. Mas desde o século XIX, palavras desesperadas clamando por tolerância religiosa, política e sexual vêm sendo escritas pela fina-flor do materialismo inglês. 

Um comentário:

Unknown disse...

Também não saberia precisar a gênese do conceito de "homoafetividade". Eu imagino, mas é apenas um palpite, que seja para lembrar as pessoas que não se trata apenas de sexo (embora seja parte essencial da história), mas também de construção de laços afetivos e, inclusive, de novos formatos de famílias. Não que todo homossexual queira ou deva seguir o ideal de vida burguês: um casal, uma casa, filhos, cachorro, quintal. Mas é para fugir da representação comum que se faz dos gays e lésbicas, como pessoas que apenas usufruem sua sexualidade em meio a promiscuidade, o que em si não é problema, tem sua legitimidade. O problema é achar que tudo se resume a isso. Embora a promiscuidade (que na verdade não é hetero e nem homo, mas simplesmente humana)também seja muito comum entre heterossexuais, sendo inclusive valorizada em músicas, ela não é colocada como expressão única da sexualidade desse grupo. Enfim, acredito que o termo sirva para lembrar as pessoas que não se trata apenas de sexo, mas de modos de construção de laços afetivos do tipo romântico. É claro que a criação de um termo não muda radicalmente a forma das pessoas pensarem, mas gera alguma reflexão. Você, por exemplo, escreveu um texto sobre isso. Hehehe. Gostei da sua escrita. É muito segura, o que é bom e soa mais convincente. Mas se pesar nessa direção, torna-se arrogante e desestimula uma discussão mais fecunda.