Todo mundo sabe que eu detesto assuntos pessoais. Afinal, nada mais tedioso do que nossas vidas. Nada mais desinteressante do que nossas opiniões íntimas a respeito de coisas particulares.
Sejamos tediosos, ao menos, por ora.
Lembro-me do meu primeiro dia de aula na pré-escola como se fosse uma noite de bebedeira confusa. Chorei como um bebê; e o frio na barriga, natural em todas as crianças da espécie, se transformou em pavor. Vomitei as tripas, e passei metade da minha premiere no mundo social enfurnado na sala dos professores, depois de alguma dose de antiemético. Fui resgatado no final da tarde pela minha vizinha, e cheguei em casa dizendo que não aconteceu nada, tentando manter o peito ereto, apesar da palidez cadavérica. Deve ter sido um dos dias mais longos da minha vida.
Nas semanas seguintes, melhorei. Nos anos seguintes, contava os dias para a volta às aulas. Hoje, velho, com os dentes caindo e praticamente com 30 anos de idade, volto a ter um frio na barriga. E olha que eu só fiquei um ano fora da universidade, entre o mestrado e o doutorado. Não sei o que faz as crianças terem frio na barriga no primeiro dia de aula. Não sabia aos 5 anos. Não sei agora. E, muito provavelmente, não saberei aos 50. É como saber o que fazer quando cantam "parabéns pra você" para você. Ninguém sabe como se comportar. É um tipo de tensão esperada, com um resultado previsível, mas totalmente constrangedora.
Espero que o frio na barriga passe logo. Mas não acabe nunca. É como um marceneiro que perde completamente o medo da máquina, e acaba perdendo o dedo.
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