segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os estoicos fatalistas foram os fundadores da esquerda

Existe um psiquiatra liberal que anda causando uma rebordosa no mundo das publicações acadêmicas. É Lile Rossiter. Ele tenta "provar" que pessoas com raciocínio anti-liberal, conhecidas como esquerdistas, possuem uma disfunção mental. Literalmente. Não se trata de um mero elemento retórico. O cara realmente defende que esquerdistas, socialistas, comunitaristas, comunistas e fãs da dupla Caetano e Chico são todos lelé-da-cuca.

Não vou polemizar em cima de nada que eu tenha lido do Rossiter. Mas existe um dos seus elementos argumentativos que já vem preocupando meus neurônios, há algum tempo. Todos nós sabemos que a ideia de "responsabilidade moral" é um problema filosófico original, ligado à ideia de "fate" ou "destino". Trata-se de uma preocupação da antiga filosofia grega. No geral, se você perguntar para as pessoas se elas acreditam em destino, dirão que não. Isso porque ninguém gosta da hipótese de sermos controlados por um elemento externo universal. Mesmos os crentes, que acreditam em um deus no formato pode, vê e sabe de tudo, gostam de usar a expressão livre-arbítrio. Como se a liberdade humana não fosse incompatível com um deus detentor de conhecimento sobre o passado, presente e futuro. Qualquer coisa nesse sentido anularia a noção mais elementar de responsabilidade moral que carregamos. Parece muito simples se auto-apontar como um agente moral livre. Mas não é tão fácil assim. A ideia de atuação externa nas ações morais individuais tem fortes partidários. Por exemplo, a pedagogia. Eles acreditam seriamente que a criança é algo a ser moldado e que influências externas serão decisivas na formação do caráter e nas futuras ações do indivíduo adulto. Isso é desrespeitar drasticamente a liberdade moral e acreditar cegamente que não existe autonomia. Ou se procura defender a autonomia ou se acredita em um conjunto de influências decisiva ao caráter do agente moral, eliminando assim a sua responsabilidade.

O raciocínio que defende o fatalismo do destino é perigoso por um motivo óbvio: ele pode levar as pessoas à inação. Ou seja, o cara começa a surfar num eterno "deixe a vida me levar" e não faz mais nada para mudar as coisas e resolver os problemas que vão surgindo a sua volta.

Em Porto Alegre, por exemplo, querem criar uma lei para proibir a venda de armas de brinquedo. Motivo: armas de brinquedo são responsáveis por pessoas potencialmente violentas. Segundo esse raciocínio, como eu passei boa parte da infância jogando Mario Bross, deveria me tornar um adulto que anda por aí me enfiando em encanamentos escuros e dando cabeçadas em tijolos. Uma baboseira sem limite.

Para mim, o esquerdismo não é uma boa explicação para o retardo mental, muito menos o contrário, como defende Rossiter. Esquerdismo é outra coisa. Explico: ser esquerdista consiste em ser, essencialmente, um covarde. Alguém disposto a encontrar justificativas alheias ao indivíduo para racionalizar ações morais que perturbam a sociedade como um todo. Ser esquerdista é acreditar que a sociedade é algo criado acima da soma completa dos indivíduos nela dispostos. É uma espécie de alucinação metafísica, defensora do fatalismo, destino, deus universal etc. Todas os ideais revolucionários marxistas são absolutamente incompatíveis com o seu ateísmo.

Os mais famosos defensores da ideia de destino foram os filósofos estoicos. Entre eles, há um cara chamado Zenão. Uma anedota conta o seguinte diálogo entre Zenão e um dos seus discípulos:
- "Porque espanca o pobre escravo, Zenão?", perguntou o discípulo. "Se ele lhe roubou, foi porque passava fome. E, se passava fome, também foi porque o destino quis".
- "Provavelmente, o destino também quis ver este escravo chicoteado", explicou Zenão. 

É muito básico. Não acreditar na liberdade individual é aceitar, como princípio político, que as pessoas são completas idiotas, irresponsáveis pelas suas ações morais. É encontrar elementos externos ao indivíduo para justificar seus problemas morais e sociais. E isso está, absolutamente, de acordo com a ideia determinista. Não existe nada de novo. Pelo contrário, é uma teoria com mais de dois mil anos, e absolutamente insolúvel. Ninguém é obrigado a abraçar o liberalismo de peito aberto. Mas é preciso avisar que esse é o preço que se paga pelo anti-liberalismo: andar de mãos dadas com a conversa fiada metafísica mais incômoda da história da humanidade. Comprar uma ideia barata é fácil. Defendê-la até as últimas consequências, aí precisa ter peru para colocar na mesa. Não é para qualquer um.

Como soterrar esse problema? Com liberalismo, ora. Só altas doses de liberdade política podem estabelecer o princípio de que as pessoas são responsáveis pelas suas ações. Por favor, vamos criar vergonha na cara, parar de tratar os outros como completos panacas e respeitar as liberdades individuais mais elementares.

Sem mais, meritíssimo.

3 comentários:

CAL disse...

Desculpe, mas, para mim, seu texto não passa de uma generalização grosseira. Este tema é por demais complexo; não é legal chamar "esquerdistas" de covardes. Esse assunto merece uma discussão melhor. Por exemplo, tenho idéias consideradas "de esquerda"(sobre vida e comportamento coletivo), porém defendo o livre arbítrio e as responsabilidades individuais. Muitos "esquerdistas" são assim. É bom pensar um pouco antes de escrever; você pode acabar ofendendo pessoas e ideais que você com certeza não conhece muito bem.

Everton Maciel disse...

leia isso: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1088&titulo=Defesa_dos_Rotulos

Anônimo disse...

Estou me perguntando por que raios o seu blog esta nas minhas bookmarks...
Quer dizer enato que se voce tem valores de esquerda, não acredita em 'liberdade individual'? O que tem a ver uma coisa com a outra?