Você não pode desperdiçar sua própria vida. Mas corre o risco de fazer isso com a vida dos outros. Então, cuidado. Pelo menos, evite um raciocínio idiota. Esse texto é sobre um dos raciocínios mais idiotas de todos.
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A conversa "ele desperdiçou a vida tão jovem" é papo-furado de tia velha. Ninguém desperdiça a própria vida. Algumas pessoas, estranhamente, têm a coragem de não fazer de suas vidas o que as tias velhas gostariam que elas fizessem. Só isso.
Por ora, me lembro de figuras que, na visão dos leigos, "desperdiçaram sua vida". Na pintura, Amadeu Modigliani, Vincent Van Gogh. Na música, com certeza, temos o maior contingente de "desperdícios de vida". São dezenas de artistas, cantores, instrumentistas e compositores, que se acabaram nas drogas, bebidas e várias coisas boas. Os famosos da maldição dos 27 anos: Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse. No Brasil, Cazuza, Renato Russo e Raul Seixas. É tanta gente relevante que tentar citar é perda de tempo.
Dizer que essas pessoas simplesmente desperdiçaram suas vidas é ignorar o óbvio.
A grade maioria dos mortais, os irrelevantes que andam pelo mundo, cometem um crime muito maior: além de peregrinos sem rumo pelas estradas sem começo, meio e fim de suas vidas, eles acabam desperdiçando a vida de todos os outros. Ninguém pode, por conta própria, desperdiçar a própria vida, por um motivo lógico: no que diz respeito ao seu corpo e mente, o indivíduo é o único soberano.
Morrer jovem não é o mesmo que desperdiçar sua vida. Muitas vezes pode ser o contrário. Não posso desperdiçar minha vida, mas posso utilizar ela de uma forma bem pouco convencional.
Por fim, a última pessoa que pode ser acusada de desperdiçar sua vida é aquela cuja obra durará por um período de tempo muito superior a média da expectativa de vida de dezenas de vidas irrelevantes somadas e multiplicadas.
Sem mais, meritíssimo.
Um comentário:
Viver 10 anos a 1000 ou mil anos a 10? Eu optei pela segunda mas tenho uma puta inveja de quem escolheu viver a 1000.
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