sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Meio-entrada: cumprimentando com o chapéu alheio

Duvido muito que um dia compreenderemos a diferença entre um benefício social e uma regalia. Somos um coletivo estúpido.

Na publicação anterior, perturbei um pouco a ideia de existe uma preferência para um determinado grupo em detrimento da maioria, quando se leva em conta a ideia de que alguns são fisicamente mais vulneráveis. Nesse mundo no sense, há um pouco de tudo. No Brasil, a gente sempre migra da preferência para a esculhambação generalizada, como neste caso que busca aposentadoria isenta de Imposto de Renda para pessoas albinas. Uma alucinação das mais escrotas.

Essa semana, fui para uma fila comprar ingressos para um show de um bandinha brasileira que vai se apresentar aqui em Porto Alegre. Na fila, junto comigo, um grande número de jovens (levando em conta que jovem é uma coisa bastante tenra: menos de 20 anos, ok? Eu não sou mais jovem). Eles não estavam comprando ingressos para o mesmo evento que eu. Dei sorte. Alguns deles usavam camisetas de uma grande escola aqui de Porto Alegre, dessas que a mensalidade ultrapassa os R$ 1200 com facilidade. Todos em punho com suas carteirinhas estudantis, devidamente registrada pelo órgão competente para comprarem seus ingressos mais baratos. Precisamente: ingressos pela metade do preço.

Quem paga o resto? Todos. Qualquer tipo de pagante que vá ao evento. Os preços encarecem para todos, inclusive para os estudantes. Eles estão pagando 50% do valor, apenas ilusoriamente. Afinal, a empresa promotora do evento é isso: uma empresa que busca lucro com o seu trabalho de promover shows. Tomei o cuidado de perguntar para uma dos rapazes que estava ali que tipo de documento eles precisavam portar para ter o benefício. Ele me disse que precisa ser uma carteirinha estudantil da escola, registrada e carimbada pelo representante dos estudantes de todo o município. Em Porto Alegre, há quem viva emitindo o documento e cobre para isso. É um mercado aparte que sustenta pessoas de caráter duvidoso.

Para os velhos, tratados pelo eufemismo de "idosos", a mesmíssima coisa: 50% de desconto. Pouco importa se é meu avô, mecânico aposentado com um salário mínimo, ou o Eliezer Batisti, minerador e explorador dos recursos naturais brasileiros que paga R$ 1mi por mês de mesada para a mulher.

É preciso ser completamente mal intencionado ou imbecil para acreditar num um modelo econômico que prevê isenções aleatórias. Um sistema desses jamais poderá ser produtivo e benéfico para a sociedade. Na fila daqueles grandes eventos, onde o ingresso, com preço integral, ultrapassa os R$ 200 facin facin não havia alunos de escolas públicas. Afinal, muitos deles, não podem pagar nem mesmo 50% desse valor absurdo. O empresário, conhecedor do seu público melhor do que qualquer um, sabe que precisará elevar significativamente o valor para compensar a perda. Resultado: burrice econômica em cadeia.

Com as tarifas de ônibus não é diferente. Fico imaginando as pessoas que lutam pelo "fim das catracas" e "pelo passe livre" com orangotangos. Não deveriam sequer se locomover com transporte público. Seu lugar é de galho em galho, pela floresta. Dentre todas as nossas idiotices, a mais medieval é a ideia de que ninguém paga por aquilo que é público. É como se eu tivesse autorização para cumprimentar com o chapéu alheio. Assim, sem mais nem menos, em troca de uns eleitores boçais.

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