quarta-feira, 24 de julho de 2013

Bairrismo, provincianismo, patriotismo

Antes de começar a ler essa publicação, vai lá em baixo e dá o play no Noel Guarani. Depois, eu explico.

Morar no Rio Grande do Sul, e manter a capacidade mental em dia, é desenvolver a arte de dar um sorriso amarelo toda vez que alguém é ridiculamente etnocêntrico. Distribuo sorrisos amarelos para evitar a distribuição de bofetadas. Bairrismo, provincianismo, patriotismo. Eu detesto demais isso tudo. Basicamente, o que os matutos não compreendem é o seguinte: um lugar não é melhor do que o outro, com base no genial argumento de que você nasceu ou mora lá, sua anta.

Todo evento folclórico é chato. Forró é chato. Micareta é chatérrimo. Carnaval no sambódromo é brega e chato. A música folclórica gaúcha não foge dessa regra: é chata para todo mundo que não está acostumado com ela. Eu mesmo, gaúcho e acostumado, não suporto boa parte da música chamada de nativista. Esse é um outro detalhe: no Rio Grande do Sul, o fiasco é tanto que damos outros nomes para o folclore, entre eles "nativismo" e "tradicionalismo".

O tradicionalismo, por definição, é uma espécie de anti-cultura. Explico: se a cultura é algo, necessariamente, de caráter aberto, plural e democrático para sofrer influências variadas, o tradicionalismo gaúcho é anti-cultural. Aqui, escrevem-se códigos de conduta dizendo o que se pode e não pode vestir em em um Centro de Tradição Gaúcha. Mais: dizem a música que pode e não pode tocar em eventos gauchescos. Falta do que fazer? Um pouco. Outro jeito de explicar essas atitudes idiotas é, mais ou menos, o seguinte: bairrismo, provincianismo, patriotismo, nacionalismo são coisas diferentes em grau e não em tipo.

Eu sou gaúcho e uma das coisas mais difíceis para mim é não tomar chimarrão. Eu não gosto de chimarrão! Simples assim. Não existe uma lei, ainda, que obriga todas as pessoas em solo gaúcho a tomar chimarrão, sempre que houver um grupo de pessoas com um água quente, cuia e erva por perto! Eu posso interagir socialmente sem precisar estar chupando um ferro quente com um estimulante de gosto ruim. Tanta coisa melhor para esse povo chupar.

Não tomar chimarrão em uma roda de chimarrão, no Rio Grande do Sul, é como xingar a mãe. Uma vez vi um forasteiro ouvindo o seguinte de um gaúcho desses de dedão quebrado: "Tu vens pro nosso pago e ainda se nega de sorver um mate". Claro, claro. Fico pensando em um carioca que obriga o turista a rebolar no sambódromo ou um baiano mandando o cara comer aquela merda de acarajé! Se o cara não gosta de acarajé, problema dele!

É provável que você tenha achado a música do Noel Guarany uma chatice. Mesmo que tenha achado legalzinha, é provável que não tenha entendido nada. Pessoalmente, gosto desta música gaúcha em particular. E isso não me obriga a gostar de tudo que se faz no Rio Grande do Sul. Temos políticos tão burros e corruptos quanto o nordeste. Nossos prefeitos e vereadores são tão folgados quanto os paulistas. Aliás, somos iguais aos paulistas quando comemoramos uma revolução que perdemos. Nós temos a Revolução Farroupilha de 1835; eles têm a revolução constitucionalista de 1932. Contar vantagem do próprio fiasco é a única virtude genuinamente brasileira. Nosso senso de unidade deve ser esse aí.

5 comentários:

João disse...

Bravo. Mais um gaúcho esclarecido afinal.

João disse...

Bravo. Como falta essa consciência de que ninguém é melhor que ninguém entre os gaúchos. Parabéns.

Diego disse...

Cara, não adianta explicar, o sentimento para quem ama o Rio Grande do Sul e suas tradições, é maior que todas essas besteiras que tu comentaste. E você como jornalista, deveria saber que não perdemos a Revolução Farroupilha, teve que vim o pacificador Duque de Caxias para firmar um acordo de paz depois de uma guerra de 10 anos. Bem, não adianta ti explicar, pois sou um separatista convicto e se tu não gosta ou tem vergonha do Rio Grande do Sul, simples. Vai embora daqui.

Lana disse...

Diego,se tu não gostas do Brasil dê o fora vc!Essas terras sempre foram do Brasil.Se não te sentes brasileiro prefere essa idiotice de bairrismo que pregamos aqui no Sul,vaza guri!

SUNDEK disse...

O separatista que tem que vazar .