Claro que falar uma coisa e fazer outra não é uma característica exclusiva das pessoas que possuem filhos. Mas considero isso realmente uma qualidade. O mundo seria muito mais intolerante se as pessoas reproduzissem, com suas bocas, as coisas nas quais acreditam e seus comportamentos bizarros. Já imaginou um pai orientando um filho a atravessar a rua assim: "faça como eu. Se está com preguiça e não tem faixa de segurança por perto, vai pelo meio da rua mesmo" Ou assim: "pedestre tem que se f#@%. Quem ele acha que é para andar pela frente do meu carro nessa faixa de segurança? Não está vendo que eu estou andando em alta velocidade?" Essas seriam orientações normais de um pai se ele não fosse um hipócrita. A pedagogia do "mostrar" não faz sentido fora de um conto de fadas ou um filme de auto-ajuda onde o cachorro morre na cenas mais dramática. É por isso que todas as verdades do mundo estão contidas nas novelas da globo e não no comportamento das pessoas.As pessoas que realmente se comportam de acordo com aquilo que pensam, no geral, têm duas características: primeiro, elas não colocam filhos no mundo; segundo, elas são insuportavelmente coerentes. E a coerência é uma desvantagem social que pode comprometer muito a vida de qualquer pessoa. Pior: a coerência abala qualquer modelo pedagógico. A pedagogia da coerência não dá certo. Pessoas coerentes são péssimos professores do ensino infantil e pais terríveis. O resultado seria sempre mais pessoas coerentes e insuportáveis. E tenho dificuldades para imaginar um mundo tão assustador.
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