segunda-feira, 27 de maio de 2013

Somos Tão Chatos

Filmes baseados em vidas reais são insuportáveis porque a vida real é insuportável.

Assisti Somos Tão Jovens, filme projetado na biografia de Renato Manfredini Júnior. O slogan publicitário do filme é "você conhece o mito. Agora conheça a história". Bom, eu conheço a história. E o filme desaponta justamente por causa disso: não tem absolutamente nada de novo. Trata-se de uma filmografia nada artística, 1000%autorizada, da vida de Renato Russo, entre os anos de 78 e 82. É um recorte histórico. A maioria das pessoas que foram ao cinema não estavam atentas a esse detalhe, anunciado, aliás, na primeira tomada da gravação. O filme é baseado na primeira parte da vida de RR. Assim, ninguém viu drogas, sexo e a parte rock'n roll da vida Cazuza que o Renato adotou repentinamente diante do sucesso da Legião Urbana.

O filme encerra justamente com a ida da Legião para o Rio de Janeiro, momento onde a banda é catapultada no sucesso nacional. As partes que poderiam ser, artisticamente, exploradas da biografia da "banda mãe", Aborto Elétrico, foram deixadas de lado, apenas por falta de fontes confiáveis. Por exemplo, o falecido guitarrista André Petrorius entrou e saiu do filme com frases feitas para não polemizar muito. O motivo ficou claro: pouco se sabe a respeito do cara. E o filme é feito a respeito do que se sabe. Tudo que foi contado ali é baseado na história documental ou testemunhal autorizada pela família Manfredini. O resultado disso é uma chatice impossível de ser controlada.

Mais decepções: o produtor musical do filme. Porra! Carlos Trilha ainda é um dos maiores músicos do Brasil! O áudio foi gravado em estéreo. Havia três caixas do meu lado direito e outras três do meu lado esquerdo simplesmente para enfeitar as paredes do cinema, sem som algum. Há algum motivo para um filme sobre um músico não ser gravado com todos os recursos tecnológicos disponíveis nos dias de hoje? Não sei. Só sei que foi o que aconteceu. Apesar da elogiável atuação de Thiago Mendonça no papel de Renato Russo, faltou brilho no som. Faltou aquela coisa que os antepassados chamavam de... música.

Na fotografia, houve excessos. Mais especificamente, sobrou o desespero de tentar ser hipster. Faltou aquela coisa sutil chamada sensibilidade. O filme começa e termina com um filtro para dar um ar anos 70 à gravação. Eu fiquei esperando aquele filtro de merda desaparecer no começo do filme e morri na praia. Não se grava com câmera na mão e filtro vintage. Cansa os olhos e pesa a cabeça. Pelamordejupter! Além disso, várias das tomadas foram baseadas em fotografias históricas consagradas e o diretor não fez o menor esforço para deixar essa informação clara. Para não dizer que tudo estava errado, a direção de cenário acertou na escolha dos móveis, carros e até nos detalhes mais pequenos como as cortinas da classe média brasiliense.

Somos Tão Jovens decepciona os desavisados porque fica aquela sensação de "acabou?" no ar. Quem vai para o cinema sem saber que o roteiro tem como foco central a parte "jovem" de Renato Russo acaba achando o filme curto e engraçadinho. Somos Tão Jovens decepciona os avisados porque não conta absolutamente nada de novo. Não é artístico. Poderia muito facilmente ser um documentário e pronto. Mas documentários não arrecadam tanta bilheteria, então... Somos Tão Jovens é uma mistura de gente sentada, crente que o filme não pode ter acabado, e gente desesperada para sair da sala de cinema o quanto antes.

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