quarta-feira, 29 de maio de 2013

Obrigatoriedade é isso: "se eu pudesse escolher, não teria feito"

Fiz questão de coletar parte da entrevista de Ana Estela Sousa Pinto, editora de economia da Folha de São Paulo, umas das profissionais mais equilibradas e inteligentes do Brasil, no Observatório da Imprensa. Ela formou centenas de jornalistas, durante os anos em que trabalhou no setor de treinamento do jornalão. É uma mente invejável que admiro há anos. 

Ainda há que perca o sono com o maldito diploma de Bacharel em Comunicação (não existe diploma de jornalista, filósofo, professor, pedagogo. É bacharel em comunicação) e, por birra e ranço, acha que o pedaço de papel é pedra fundamental para o trabalho de escriba nas redações. Burrice. Para não acusar essas pessoas de burras, só podemos acreditar na falta de caráter e na defesa desesperada de interesses pessoais medíocres, insensatos e protecionistas. Quem quer estudar, estudar de verdade, não se contenta com uma graduação. 

Ana Estela, formada na USP, confessa que estudou porque se sentiu obrigada. Em coro com outros jornalistas sensatos, ela comemorou o fim da imposição ditatorial, uma herança maldita do regime militar. Os jornais contratam quem querem. A faculdade deve estar à disposição de quem se interessa pelo conhecimento e estudo. Os demais demais, podem aproveitar a vida com coisas mais úteis. 

Nas palavras de Ana Estela:

Na época [em que me formei], o diploma era obrigatório e, apesar da Folha não exigi-lo, eu achava prudente ter, porque, se um dia fosse demitida ou quisesse sair, teria menos dificuldade em arrumar emprego em outro veículo. O curso até foi útil em algumas coisas, mas, se eu pudesse escolher, não teria feito. Foi muito tempo. Levei sete anos pra concluir.


Fazer a faculdade de jornalismo pode ser útil em várias coisas, principalmente se você realmente tiver orientação e puder mesmo crescer. É a possibilidade de fazer exercícios, entender como funciona o Jornalismo, conhecer vários veículos. Também acho que é uma boa chance de fazer uma rede de relacionamentos com pessoas que querem trabalhar na profissão. Mas não acho que ela seja imprescindível para você ser um bom jornalista ou que ela seja suficiente. A realidade comprova isso. O diploma não era obrigatório em 1968 e você tinha ótimos jornalistas. Até hoje, há ótimos jornalistas que nunca fizeram faculdade de Jornalismo: Elio Gaspari, José Hamilton Ribeiro e dezenas de outros. E, mesmo depois que o diploma tornou-se obrigatório, a Folha, por exemplo, continuou contratando pessoas de qualquer área.


Hoje em dia, a obrigatoriedade do diploma serve muito mais ao movimento sindical, que quer garantir uma reserva de mercado, do que a qualquer outra coisa. Mas não acho que é uma forma do “governo controlar”. Eu acho que seria ideal um sistema misto de fazer outro curso de formação mais básica e, depois, fazer um curso de jornalismo; um pouco parecido com o que há em vários países. EUA (que tem um sistema de graduação completamente diferente do nosso e é difícil comparar), França, Inglaterra, Alemanha não têm diploma obrigatório.

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