sábado, 19 de janeiro de 2013

Fortaleza, paralelo 03

Estou em Fortaleza. Capital do Ceará. Vim fazer uma prova de doutorado. Eu não faço turismo. Antes que perguntem: não passei. Meu projeto foi aprovado, o currículo também. Mas os outros concorrentes eram tremendamente melhores. Bom para eles. Eu ainda tenho muita correria para fazer, antes de achar que posso ser dôto.

Como eu reprovei na tal prova, decidi remarcar minha passagem. Afinal, eu esperava participar de todo processo seletivo, mas não deu. Fui na TAM que tem uma loja em Fortaleza. O estabelecimento fica próximo ao quinto dos infernos, esquina com a puta que pariu. Não obstante (sempre quis usar essa conjunção, mas sei que ela é idiota e ambígua), a porra do Shopping que a TAM anuncia no site tem simplesmente outro nome. Sempre dificultando a vida do miserável passageiro. Depois de chegar na loja, perguntei sobre a remarcação. Parei de ouvir o que a balconista-vendedora dizia depois que ela falou o número quatro seguido da palavra que representa o número inteiro mil, ou seja, custava mais de 4mil dilmas a remarcação. Avisei a miserenta (essa expressão aprendi aqui no nordeste) que eu não queria comprar o Airbus A320. Minha atenção era apenas voltar para casa 48 horas antes do horário previsto. Mas ela disse que a nova tarifa estava em 5mil dilmas, e eu precisava pagar a diferença. Soltei um sonoro FO-DA-SE e deixei bem marcado meu sotaque gaúcho para representar bem o meu Estado em terras estrangeiras. Depois, sai de lá pesando o que diabos eu iria fazer em três dias e duas noite numa cidade de 2,5mi de almas e desacompanhado.

Então, decidi que eu precisava aprender andar de ônibus. Peguei um mapa e fui para a estação do Papicu (nome de bairro de gente rica, mas de mau gosto para batizar as coisas). De lá, disseram-me, eu poderia pegar busão para quase todos os cantos do mundo. Depois descobri um mapa muito bom no site da empresa que administra o transporte público da cidade. Chegando no tal terminal do Papicu um moço me disse que "a melhor praia de Fortaleza" chama-se Praia do Futuro. Embarquei no 810, e fui. Nunca vi lugar mais sem futuro, com o perdão da piada evidente. Imaginem a farofagem elevada a uma potência de dar inveja ao último número primo antes de 1000. O ponto positivo é que eu nunca vi mar mais lindo em toda minha famigerada existência. Se alguém disser pra vocês que as praias mais lindas do mundo são do nordeste brasileiro, acreditem e calem a boca. Sem discussão quanto a isso. Fiz até uma kodak com o celular para provar como a praia é bonita. E fiz outra para provar que a praia é bonita contrastando com a minha feiura.

As praias do Rio Grande do Sul são uma sucursal do inferno. Vento inconstante. Água fria. Areia barrenta e mar chocolatão. Finalmente, com quase 30 anos na cara, eu vi um mar de verdade. Para tornar minha excursão de um único dia completa, eu precisava comer uma comida típica-de-qualquer-lugar. Bastava o garçom me dizer que era uma comida típica. Então, li no cardápio "carne de sol e baião". Isso tinha nome de comida típica. Pedi. Na verdade, é charque. Isso, charque. Carne salgada e seca. Mas o preparo estava bom. O tal do baião é, acreditem, arroz e feijão mexidos na mesma panela. Eu não sei refugar comida. Comi destrambelhadamente até a última garfada. Comi de gula. Não iria passar um dia sem pecar, ainda mais na praia.

Depois peguei o busão - socadaço!! - até a casa dos baianos que estão, gentilmente, me hospedando. Ônibus lotado mesmo. Mas a passagem é barata, comparada com outras capitais: 2,20dilmas. Aqui é tudo assim. Serviço para o turista: bom e caro. Serviço para a população: ruim e barato. Existem dois táxis no Aeroporto Pinto Martins. Um deles custa 53dilmas. É por zoneamento e sem taxímetro. O outro custa 31dilmas com taxímetro. Mas só sem taxímetro o taxista vem pelo caminho mais curto.

Fortaleza tem um dos melhores climas que eu já provei. O verão gaúcho faz a capital ser apelidada de Forno Alegre. Quente na rua. Quente em casa. Quente na sombra. Aqui, só no sol a vida fica difícil. O pior sol do mundo com a melhor sombra do mundo. Tenho dormido de janela aberta e com uma brisa gostosa batendo nas partes baixas. Dîlicia, como diria um cîarense.

Com essa besteira de globalização, em 50 anos todos os ricaços do mundo vão estar disputando um clima desses. Isso, se o clima continuar assim em 50 anos, coisa que eu duvido. O mundo vai ser um lugar insuportável, com tanto turista idiota por aí.

3 comentários:

Vani disse...

"...do Papicu (nome de bairro de gente rica, mas de mau gosto para batizar as coisas)."

Morri rindo!!!Bom retorno ao sul!

disse...

Eu nunca ri tanto lendo um texto seu, imaginei as cenas enquanto lia. Senti prazer de ler até o final.

disse...

Nunca ri tanto ao ler um texto seu. Senti prazer ao terminar...imaginei as cenas enquanto lia. Você consegue ser chato até nos lugares mais perfeitos.