Papo de Homem que me fez criar coragem de escrever sobre um assunto que muito me afeta: o hábito de usar chapéus. Nem quando era criança, usei boné. Agora, depois de velho, tenho tentado usar para ir a academia. As duas quadras que separam minha casa do lugar não poderiam ser mais longas. Chega me dar arrepios. Quando me vejo com aquilo na cabeça, penso: que merda é essa? Mas, como na academia tem uma puta duma vitrine para os transeuntes olharem a galera malhar (deve ser uma boa forma de publicidade, mas é um saco), uso boné para ficar mais escondidinho. Sou tímido, gente!
Ponto. Nova linha.
Mesmo sem o hábito de usar boné, sempre gostei muito do formato Kangol; e chapéus uso bastante em todas as estações do ano. Tanto o chapéu do panamá, feito de palha, ótimo para o sol do verão, quanto o fedora de feltro, bom para o inverno.
No Brasil existem ótimas chapelarias, como a Curi e a Marcatto. Infelizmente, muito tragicamente, o sistema de distribuição dessas marcas é péssimo e é muito difícil encontrar um bom chapéu feito por elas em lojas de roupas convencionais. Tabacarias especializadas e outras lojas dedicadas aos acessórios masculinos têm. Mas isso difunde muito pouco os produtos. Os chapéus mais vendidos acabam sendo aqueles folclóricos, como o chapéu de gaúcho ou o chapéu de vaqueiro. Ótimo para quem gosta de andar fantasiado, mas ninguém faz isso no dia-a-dia da cidade.
Alain Delon: chapéu de feltro. Frio e chuva |
Pois é. Tenho notado que o hábito de usar chapéu retornou. Lamentavelmente, a maioria dos chapéus usados hoje em dia são vendidos ao lado daqueles bonés de abas retas. Uma tristeza. Tanto na feiura, quanto na qualidade. Não é possível comprar um bom chapéu por dez cobres no camelô. Ajudaria bastante se as fabricantes de qualidade se esforçassem para colocar seus produtos no mercado convencional com preços mais baixos e as boas lojas (não é o caso da Renner e da C&A) requisitassem os representantes comerciais. Mas sei que isso é difícil. Vai continuar vigorando o padrão do mau gosto.
A não ser que você vá para uma festa a fantasia, onde supostamente pode usar qualquer coisa, não coloque um chapéu na cabeça, caso você não se sinta bem com ele.
O chapéu é um artefato. Não é um mero assessório como um cinto ou um par de meias. Para usar um chapéu é preciso respeitar ele. É um relacionamento metafísico, e impossível de ser explicado. Não é colocando um chapéu na cabeça que você vai ser melhor que os outros. É preciso ser melhor que os outros para usar um chapéu. Não é possível escolher um chapéu, o chapéu escolhe você.
Na sociedade afrescalhada contemporânea, um bom chapéu se tornou um objeto que remonta aos tempos onde a civilização era separada entre homens e moleques. E o segundo grupo não tinha autorização social para interferir nos assuntos do primeiro. Trata-se de um período pre-Restart, quando havia, ao menos, ideais de bom senso e cavalheirismo. Por isso esse símbolo, o chapéu, é hoje mais importante do que nunca.
No mais, segue valendo a máxima geral: personalidade é igual olho azul, ou você nasce com ela, ou passa a vida inteira admirando nos outros.
5 comentários:
Fiquei feliz que o meu texto no PdH motivou a escrita desse. Achei massa mesmo!
Inclusive, se um dia quiser escrever sobre chapéus para o PdH, fala comigo no fabiobracht arroba papodehomem ponto com ponto br, e a gente discute alguma coisa.
Abração!
Cara, o texto é meio antigo mas achei ele procurando por chapéus fedora. O artigo do papo de homem me trouxe até aqui.
Parabéns, ficou do caralho. Seria ótimo se você escrevesse mais sobre chapéus, tanto aqui quanto no PDH. Abração
Cara, curti o post. Mas não é interessante escrever que chapéu de gaúcho ou cowboy é pra quem gosta de se fantasiar.
A pilcha gaúcha não é fantasia, e sim parte da cultura que talvez você não entenda por não fazer parte desse estado.
Não vejo muita gente de chapéu na rua, e só conheço duas pessoas que usam. Então, por aqui, o uso de chapéu não é tão comum... Gosto de meu chapéu, costumo sair com ele, mas estou querendo comprar um mais escuro, pois o meu é muito branco, e um parecido com o do Doutor, só para ostentar: http://img2.wikia.nocookie.net/__cb20080903192351/tardis/images/a/af/Fourth_Doctor_eating_allsort.jpg
:P
Legal o seu artigo. Realmente, chapéu não é pra moleques. E quando digo chapéu, é um chapéu de verdade e não essas porcarias de R$ 10,00 que a piazada compra pra tirar onda na balada.
E pra um homem usar chapéu, principalmente hoje em dia, tem que ter atitude e convicção disso, senão vai se sentir e parecer um palhaço. Porque as pessoas notam a insegurança e isso é que é verdadeiramente ridículo. Convicção é tudo, e não só em matéria de chapéus.
É mesmo difícil achar bons chapéus no Brasil, pontos de venda são escassos e a maioria dos chapéus de feltro disponíveis por aí carecem daquela personalidade que os chapéus dos velhos tempos tinham... 4 dos meus 8 chapéus são vintage, e são os meus preferidos. Alterno entre eles no dia a dia, conforme a ocasião e o look.
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