terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A distinção entre "leichtfertig" e "gelehrt": eine Einleitung

Everton Maciel, pós-graduando em qualquer coisa muito importante para ser compartilhada com os latino-americanos

Vamos fazer um rápido manual para mostrar como textos sem o menor fundamento podem adquirir status e profundidade acadêmica, devido às firulas, confetes e outros artifícios afrescalhados utilizados pelos seus intemperantes redatores.

No meio academicista, é fácil efetuar textos absolutamente obsoletos utilizando verbos diferentes e sinônimos mais interessantes para a mesma ação do agente das frases. À guisa de introdução, é importante ressaltar que, mesmo desempenhando tarefas irrelevantes, um agente tão indispensável quando um figurinista de folhetim eletrônico tem a oportunidade de fazer uso de verbos fabulosos para desempenhar suas funções semânticas. Precisamos asseverar que os verbos purpurinados são os Soberanos Supremos da firula redacional. Com prática e um dicionário de sinônimos, um simples “fazer” transforma-se num meticuloso “desempenhar”. Adjetivos e substantivos carnavalescos, quando instalados ao lado de verbos luminosos, não exercem influência nenhuma no texto. Desta feita, você pode minutar as bobagens que quiser, e ninguém empregará nenhuma importância a elas, graças a sua capacidade de fazer o fácil se comportar de uma maneira difícil. E, se um texto acadêmico for difícil de ler, o sucesso é garantido.

Outrossim, existe no meio acadêmico a implicação da possibilidade da afirmação da redação. Não entendeu? Não importa. O importante é que um inciso precisa muito ter seus parágrafos começando com conjunções inexplicáveis. “Porém” e “mas” não devem ser utilizados. “Além disso” deve ser substituído por “ademais” e assim por diante. Um verdadeiro verborrágico academicista não pode se curvar diante da tentação da simplicidade. Um bom texto precisa, de forma resoluta, parecer a vanguarda da retaguarda. Contudo, não se olvide de parecer complexo e não perca o ar de supino. Lembre-se: a importância do seu texto depende do fato de que as pessoas não compreenderem o que ele quer dizer.

Não obstante, a imputabilidade das coisas que você escreve será anulada se você for mais intelectual que elegante. A elegância é infantil demais. Na academia, não pode-se sobreviver com coisas simples. É preciso criar regras novas e superar paradigmas da linguagem. Nunca esqueça-se de usar a palavra paradigma em alguma estação do seu texto! Na argumentação acadêmica, um paradigma corresponde à flâmula americana tremulando nos filmes de guerra.

Se a regra diz: “uma negação exige que a reflexão seja posta na frente do verbo” e você notar que muito mais significante é escrever “não pode-se”, dispense a regra. Você é o acadêmico; você elabora as regras que lhe convém. É de você que depende o progresso intelectual do terceiro mundo. Aos reles plebeus, resta a conformidade e a imitação daquilo que você emprega.

Consoante com essas nossas orientações é preciso acrescentar que o sucesso acadêmico das pessoas no ambiente universitário é inversamente proporcional à simplicidade dos textos que elas publicam. Como você ambicionará uma complexidade nas suas propostas teóricas com textos acriançados? A definição de “estilo literário” é polêmica... ops! Polêmica, não: controversa! Para fins referenciais, precisamos compreender que “estilo” é uma forma linguística característica de um determinado agente ou grupo. Se seu texto não tem estilo próprio, o dolo é seu! Não importa que você não tenha estilo. O importante é que você pareça ter um!

Com vistas ao fim último, em hipótese alguma esqueça-se de colocar no seu texto um título prolixo e utilizando alguma língua vernácula culta. Não caia em tentação da obviedade. O inglês é uma língua contemporânea e inculta. Opte pelo alemão, latim ou grego. Alguma língua morta de significância intrínseca para a academia sempre cai bem. Ao delinear sua escrita com este feitio, não se observar-se-á a diferença entre o frívolo (leichtfertig) e o erudito (gelehrt).

Um comentário:

Plauto disse...

inexoravelmente paradoxal! hehehehehe!!! muito boa a ideia central da crítica. não que as pessoas não devam ler e melhorar suas escritas (o que é o meu caso, hehehehe), mas esse mimetismo (eu juro que já conhecia e usava essa palavra, hehehe) acadêmico é visível e aviltante. isso sem entrar nas questões ideológicas, assunto para outra discussão regada por uma boa bebida. Abraço, grande amigo!