sábado, 14 de maio de 2011

O Povo Precisa de Anti-Herois

O mundo precisa de anti-herois. O mundo, não necessariamente. Mas o povo precisa de anti-herois. Como suspeito que o mundo precisa do povo, então estendo a conclusão.

O primeiro anti-heroi da nossa História foi Sócrates. Personagem da l'âge d'or grega, foi transformado em anti-heroi pela sua simplicidade. Morreu com todas as características de um anti-heroi. Na verdade, ele não morreu. Morreram com o coitado. Foi condenado e morto com cicuta. Acusação: perverter a juventude e se tornar perigoso aos ideais civis gregos. Aliás, 400 anos depois, outro anti-heroi seria morto. Jesus Cristo foi um anti-heroi do início ao fim da vida. Resultado: padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Essa não foi sua única semelhança com Sócrates. Os dois passaram a vida metidos em encrencas. Personalidades fortes. Cada um a seu jeito. Não foi em vão que os governos vigentes ficaram putinhos com eles.

A idade média: oh, periodozinho ruim para ser anti-heroi. Quem sabe Joana d'Arc, no século 13. Mesmo assim foi um péssimo momento para exercer o anti-heroismo. Não basta ter personalidade forte para ser anti-heroi. É preciso ser adorado. No medievo, todo mundo precisava ser casto e puro. Chatice total. Os que foram mais adorados são figuras como Santo Agostinho. O cara era um africano beberrão e mulherengo. "Fazei-me casto, Senhor, mas não agora!", orava ele olhando para o rebolado da mulherada. Se ficasse assim, não seria adorado nunca. Precisou amansar a personalidade antes de escrever seu nome na história da patrística.

A Filosofia é um bom lugar para se identificar anti-herois. Por que Nietzsche fez mais sucesso que Heidegger? Porque Nietzsche foi o Super-Homem que propôs. Heidegger foi um chato. Participou da juventude hitlerista. A convite do Führer, foi reitor universitário. Pobre diabo! Um perfeito integrado ao sistema de sua época. Em contrapartida, anos antes de Heidegger, Nietzsche morria de sífilis. Sua irmã tentou usar seus escritos para apoiar os "ideais alemães", durante a Segunda Guerra. Elisabeth Föster-Nietzsche virou uma grande puta da História. Interpretes de Nietzsche rebatem as acusações de antissemitismo, até hoje. Com anti-heroi não se brinca! Anti-heroi é unanimidade. Nietzsche é o Michael Jackson da filosofia; Heidegger o nazista. Os livros de Nietzsche vendem nas padarias; Heidegger só é lido pelos chatos da academia.

Uma característica irremediável de qualquer anti-heroi é a adoração do povo. O povo precisa de anti-herois; reclama sua existência. Quando não os encontra, inventa-os.

Hoje em dia, a miséria intelectual é tamanha que Gregory House é aclamado como anti-heroi. Quem disse que um anti-heroi precisa ser simpático como Sócrates ou bondoso como Jesus Cristo? Bobagem! Além de personalidade forte, um anti-heroi precisa é ser adorado incondicionalmente. Só. Adorado na vida ou na morte. Não interessa. O personagem de Hugh Laurie com sua capa de arrogância sistêmica e antipatia catedrática "é o cara". Amado. Adorado. Venerado.

Sócrates, Jesus e d'Arc foram mortos. Nietzsche morreu louco. Hugh Laurie ganha U$$ 600mil por episódio da série Dr. House. O anti-heroi do nosso tempo é um exemplo objetivo da nossa miséria moral.

Quem assiste House, em geral, é o medíocre médio. Figuras que não reconheceriam a diferença entre uma luxação e uma contusão. É preciso conhecer química para gostar de House? Seria o mesmo que exigir que todos os discípulos de Sócrates compreendessem o método maiêutico? Bobagem! Claro que não!

Se tu não nasceste com os olhos azuis, passarás a vida admirando pessoas com belos olhos azuis. Não há problema. Mas, se colocares lente de contato, serás um ridículo. Quem não nasceu com personalidade forte, precisa passar a vida admirando a personalidade de um anti-heroi. É bom? É mau? Não sei, e não interessa. Só sei que é assim.

8 comentários:

Vani disse...

Nossa minha personalidade deve ser fraquíssima! Dos caras que tu listou, pelo menos 3 eu admiro: Jesus, Nietzsche e House; e por motivos diferentes. Nem vou falar de Jesus para tu não rir muito de mim. O Nietzsche...desprovido de charme, mas na minha perspectiva um grande pensador. O House desprovido de simpatia, mas cheio de charme...eheheheh!!!Se são anti-heróis não sei, mas que eram um barato...isso sim!

Everton Maciel disse...

Vani, eu admiro todos os citados. Menos Heidegger. Só não amo incondicionalmente ninguém. Nem eu mesmo.

Anônimo disse...

Everton, gostei muito do teu ponto de vista. Penso de forma parecida sobre a "necessidade" que o povo tem de Anti-Herois. Conseguiste sintetizar de maneira clara e precisa. Visitarei seguidamente. Abraço.

João Mezzomo disse...

O Nietzsche virou moda, então qualquer debilóide compra o Zaratustra, apesar de não entender nada.E suas idéias fundamentaram sim o nazismo, pois era elitista e radicalmente contra a democarcia, apesar de não ser anti-semita, pois inegavelmente não era medíocre.
Se Heidegger é lido apenas pelos chatos, não nos esqueçamos que Sócrates era esse mesmo tipo de chato, e foi ele que começou a filosofia ocidental. Pois ele tinha curiosidade diante de tudo, e não ia atras de modismos e da opinião da maiora. Não adianta criticar a "grande mídea" só por ser grande, e repetir seus métodos e sua mediocridade, mantendo a discussão na superficialidade, apelando para factóides e contruções frasais "pseudo-intelectuais".

João Mezzomo disse...

Outra coisa, Nietzsche foi o mais longe possível de seu super-homem. Passou a vida defendendo a luta mas se borrou quando foi viver a guerra real, e viu sangue real e não teórico, e não se recuperou mais. Ficou vivendo de uma pensãozinha (para ver como o público não é tão ruim assim). Ou seja, é fácil falar do que não conhecemos. Mas ninguém é tão maravilhoso assim, nem tão ruim assim. Só divide o mundo em maravilhosos em "pobres diabos" os que necessitam de ídolos. No frigir dos ovos, Nietzsche, Heidegger e nós mesmos nos assemelhamos muito mais do que nos diferenciamos.

Everton Maciel disse...

bocejos

Anônimo disse...

e mais bocejos ...

Daniela disse...

Moda Nieztsche? João Mezzomo, suas colocações são interessantes, mas... preguiça de você.
Everton Maciel, sua crueldade para com o óbvio vai além de qualquer afirmação.