terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Dia do repórter

Hoje é dia do repórter. Do repórter de verdade, não do jornalista. Ou, como alguns preferem, hoje é dia do único jornalista de verdade: o repórter. Não há jornalismo sem reportagem. Tire a reportagem do jornalismo e terá tudo aquilo que não é jornalismo: assessoria de imprensa, opiniões furadas e todo tipo de publicidade.

Repórter mesmo é aquele que responde processo. Não conheço um repórter relevante que não tenha seus compromissos diante dos tribunais. O repórter não é glamouroso, não é enfeitado, não vive com o cabelinho penteado e lambido de brilhantina. Clark Kent não é repórter. Kent é heroi. O repórter é o anti-heroi.

Quem passa pelo ofício da reportagem aprende a conservar os amigos e, especialmente, os inimigos. O repórter é protetor: se contar para todo mundo quem lhe conta as coisas, ninguém lhe contará mais nada. O repórter, ainda, é expositor: publica aquilo que alguém quer que não seja publicado.

Repórter, mesmo, tem a pele queimada de sol e o sovaco fedorento de tanto saracotear na rua. Depois de muito sapato gasto, o repórter tem problema nos joelhos de tanto fazer plantão e esperar pelas fontes. Repórter é aquele que ninguém quer receber no escritório. Os repórteres tomam "chá de cadeira", para apurar a reportagem do dia seguinte, com a mesma frequência que recebem telefonemas desaforados de gente descontente com a reportagem do dia anterior.

Um clichê diz que "a reportagem é a alma do jornalismo". Eu digo que o repórter é a garrafa do jornalismo. Se uma pauta couber dentro daquilo que o repórter pode fazer, é jornalismo; do contrário, é contingente: só serve para fazer peso na folha de pagamento do jornal ou atrapalhar o repórter.

Um comentário:

Fernando Torres disse...

Bonito, mas irreal. Esse repórter que você cita talvez cubra cidades, polícia ou política. Mas isso não quer dizer que seja menos nobre (ou útil para a sociedade) a função de repórter de economia, por exemplo, cujo trabalho exige, sim, estar com o "cabelinho penteado" ou, então, apurar muita coisa pelo telefone. Idem para o repórter de cultura, de saúde, de gastronomia, de comportamento, de revistas especializadas, de bordo... Esse falso glamour da profissão já foi. Ainda bem! Percebemos que o mundo pode ser mais amplo e jornalismo nem sempre é sofrer. Abraços de um repórter que anda sem problema pela rua quando necessário, mas não tem o sovaco fedorento...