sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Necessidades básicas

Elton Schimo, de Santa Rosa

Em meio a uma domingueira sessão do mais recente filme do cineasta alemão Wim Wenders, The Palermo Shooting, dei uma pausa na narrativa da egotrip - travestida de viagem existencial - de um fotógrafo da moda, europeu, por supuesto, para poder espiar mais um artefato cinematográfico parido na vizinha Argentina. Villa, direção de Ezio Massa, era o que ofertava o Canal Brasil em sua tímida janela semanal ao cinema latino-americano. Não me lembrava de ter lido ou ouvido algo sobre o filme ou seu diretor. Fiz minha aposta baseado no conjunto da recente safra cinematográfica do país. E não me arrependi.

Villa
acompanha a saga de três jovens descamisados, moradores de uma favela - a villa do título - dos arredores de Buenos Aires, para assistir, pela tevê, a estreia da Argentina na Copa de 2002. Tal como em outros rincões do planeta, a pátria argentina também calça chuteiras. E parece inconcebível alijar-se dessa febre.

Jogo encerrado, Argentina 1x0 Nigéria, gol de Gabriel Batistuta. A Copa iniciava promissora para
los hermanos. Aos pibes da villa, porém, o futuro já se fazia mais rarefeito.

Um respiro rápido, uma breve chacoalhada nas pulgas, e outra aposta pedia cobertura:
La Zona, filme mexicano a cargo de Rodrigo Plá, iniciaria em alguns minutos no Cinemax. Outro tiro no escuro - um México shooting, talvez.

A
zona mexicana refere-se a um condomínio privado, desses que encastela as gentes classe média-alta - "a poucos minutos do centro" - nas metrópoles dos quatro cantos do mundo. Uma zona que se pretende inexpugnável, armada até os dentes - até a alma, mais precisamente -, com polícia, escola, lei e justiça próprias.

Noite dessas, o acaso atrai alguns vizinhos indesejáveis - coincidentemente, também um trio de marginalizados - para o interior do
bunker. Segue-se então uma caçada implacável a estes verdadeiros corpos estranhos.

Ao final dessa sessão dupla de realidade latino-americana, escorada na sensibilidade e talento das equipes que produziram estes belos filmes, perdi o interesse pela
egotrip europeia que a lente calejada de Wim Wenders enfocava. Nem a ótima sequência de pop songs que o cineasta inoculou em seu personagem-guia - e que faz, às vezes, de trilha sonora - despertou meu apetite pela retomada da fita. Ainda.

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