segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Escolas adotam criacionismo em aulas de ciências

Instituições religiosas usam explicação cristã sobre criação do mundo junto com a teoria da evolução

Simone Iwasso e Giovana Girardi, da Agência Estado

Polêmicos nos Estados Unidos, onde são defendidos por movimentos religiosos como mais do que explicações baseadas na fé para a criação do mundo, o criacionismo e o design inteligente se espalham pelas escolas confessionais brasileiras - e não apenas no ensino religioso, mas nas aulas de ciências. Escolas tradicionais religiosas como Mackenzie, Colégio Batista e a rede de escolas adventistas do País adotam a atitude de não separar religião e ciência nas aulas, levando aos alunos a explicação cristã sobre a criação do mundo junto com os conceitos da teoria evolucionista. Algumas usam material próprio.

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Outros trabalham com livros didáticos da lista do Ministério da Educação e acrescentam material extra. "Temos dificuldade em ver fé dissociada de ciência, por isso na nossa entidade, que é confessional, tratamos do evolucionismo com os estudantes nas aulas de ciências, mas entendemos que é preciso também espaço para o contraditório, que é o criacionismo", defende Cleverson Pereira de Almeida, diretor de ensino e desenvolvimento do Mackenzie.

O criacionismo e a teoria da evolução de Charles Darwin começam a ser ensinados no colégio entre a 5ª e 8ª séries do fundamental. Na hora de explicar a diversidade de espécies, por exemplo, em vez de dizer que elas são resultados de milhares de anos do processo de seleção natural, se diz que a variedade representa a sabedoria e a riqueza de Deus.

No Colégio Batista, em Perdizes (SP), o entendimento é semelhante. "Ensinamos as duas correntes nas aulas e deixamos claro que os cientistas acreditam na evolução, mas para nós o correto é a explicação criacionista. O importante é que não deixamos o aluno alienado da realidade", afirma Selma Guedes, diretora de capelaria da instituição.

A polêmica está no fato de os colégios ensinarem o criacionismo e o design inteligente não como explicações religiosas, mas como correntes científicas que se contrapõem ao evolucionismo. Nos EUA, a polêmica parou na Justiça. Em 2005, tribunais da Pensilvânia decidiram que o design inteligente não era ciência, recolocando Darwin nas escolas. No Brasil, onde o debate não é tão acirrado, esse tipo de ensino tem despertado dúvidas sobre a validade na preparação dos alunos. Os conteúdos de ciências exigidos em concursos e vestibulares são baseados em consensos de entidades científicas, que defendem a teoria da evolução.

Já nos cerca de 2 mil colégios católicos, segundo dados da Rede Católica de Educação, não há conflitos entre fé e teoria evolucionista. No material usado por cerca de cem colégios do País, as aulas de ciência trazem a teoria da evolução e explicam o papel de Darwin.


Nota do Capeta
O Brasil é especialista em importar idéias fracassadas e conseguir piorá-las. Ninguém ganha da gente quando o assunto é esse. Que a inteligência seja agredida em escolas mantidas por instituições religiosas, tudo bem; mas, entre isso e estender o criacionismo às escolas da rede pública - como no Rio de Janeiro, estado que retomou o ensino religioso obrigatório na grade das suas escolas - é desafiar a capacidade das pessoas de compreender a realidade.

O secularismo – separação entre Estado e religião – é uma conquista da modernidade, algo que culminou na Revolução Francesa. Colocar dúvidas aos avanços da ciência é algo aceitável e normal. Afinal, se ciência e filosofia se postulam como combatentes dos dogmas desprovidos de fundamento, nada mais natural que estarem alicerçadas em conceitos flutuantes, sujeitos a alterações.

No entanto, regredir a ponto onde se aceita uma entidade divida como verdade científica é, simplesmente, mau-caratismo. É preciso observar os interesses que estão por trás desses dogmas: dominação, controle moral e desrespeito a inteligência humana. Foi assim durante toda Idade Média. São esses “valores” que devem ser resgatados?

Um comentário:

Barone disse...

Concordo com plenamente com os capetas.